Bastava um segundo, mas foram 2620. A vantagem que permitiu a Carlos Sainz vencer pela segunda vez o “Dakar” foi de 43 minutos e 40 segundos, ou 2620 segundos. O que dito desta maneira soa a uma eternidade, mas depois da pressão dos últimos dias, enquanto não se viu finalmente em Dakar…ups,Córdoba, Sainz deve ter roído as unhas todas!…
Em 13 etapas disputadas, pois uma das 14 previstas foi anulada, os Peugeot 3008 DKR Maxi oficiais venceram sete vezes, contra seis das Toyota Hilux. Não se pode dizer que não tenha havido um equilíbrio de forças, tanto mais que a vitória de Sainz se desenhou sobretudo pela paciência e por estar no lugar certo, no momento certo.
Terceiro dos quatro pilotos da Peugeot a chegar ao comando, de uma lista em que apenas não se incluiu Sebastien Loeb, Carlos Sainz chegou ao primeiro lugar graças ao atraso de Stéphane Peterhansel, quando embateu numa rocha e arrancou, literalmente, o eixo posterior.
Depois, Peterhansel ainda se atrasou mais, ao partir a direcção na penúltima etapa, comprometendo as chances de secundar o seu companheiro espanhol. E até de subir ao pódio… Recordista de vitórias no “Dakar”, Peterhansel soma 13 triunfos, mas poderia ter conseguido mais alguns, pois por diversas vezes estava destacado na frente quando lhe aconteceu algo que contrariou os prognósticos.
Este ano, em que a Peugeot anunciou que seria a última participação no “Dakar”, qualquer dos quatro pilotos da marca desejava ter a honra de terminar vitorioso. E cada um deles esteve, num dado momento, em posição de discutir a vitória.
Cyril Despres foi o primeiro dos pilotos da Peugeot a chegar ao comando. Mas conseguiu-o na segunda etapa e na terceira foi ultrapassado por Stéphane Peterhansel.
Por sua vez, Sebastien Loeb aproximou-se da primazia, mas desistiu prematuramente, devido a uma lesão física contraída pelo seu navegador, Daniel Elena.
E já na Bolívia, quando Peterhansel parecia estar folgado, perdeu o comando para Carlos Sainz. O piloto espanhol acabou por dominar a segunda metade da prova, mas sempre a sentir-se ameaçado pelos homens da Toyota. Sobretudo por Nasser Al-Attiyah, que venceu quatro etapas.
O árabe, do Qatar, foi o primeiro líder, mas logo no segundo dia perdeu-se nas dunas entre Pisco e Ica, no Peru. E a partir daí, Al-Attiyah foi recuperando gradualmente até ao segundo lugar.
Os altos e baixos que marcaram o desempenho de Nasser Al-Attiyah impediram-no de confirmar as expectativas que criou, ao vencer a etapa de abertura. Tanto mais que a Peugeot entrou cabisbaixa, lamentando-se publicamente que o regulamento fora revisto para penalizar os seus carros. No entanto, apesar disso ter acontecido, ficou demonstrado que aumentar o peso dos Peugeot e reduzir-lhe ligeiramente o curso da suspensão não os afectou. Daí terem sido os 3008 DKR Maxi os carros com mais vitórias e os únicos a liderar, desde a segunda etapa.
Quanto à Toyota, ficou a demonstração que as novas medidas regulamentares, inversas às dos Peugeot, favoreceram os seus carros. Nasser Al-Attiyah evidenciou-o ao vencer por quatro vezes, numa demonstração de força reforçada por um triunfo de Bernhard Ten e outro de Giniel de Villiers.
O holandês Ten Brinke não chegou ao fim, renunciando a meio da penúltima etapa, devido a problemas de motor. Villiers como que vingou este abandono ao impôr-se na etapa final; é certo que venceu por curta vantagem, apenas 40 segundos, sobre Peterhansel, mas suou para vencer à chegada a Córdoba.
Absolutamente arredados dos lugares da frente estiveram sempre os pilotos do Team X-Raid. Ou da equipa Mini. Salvou-se o polaco Jakub Przygonski, que discretamente se foi mantendo entre os dez primeiros. E terminou em quinto, sendo o único piloto da Mini no top ten.
O segundo Mini foi também o carro de um “cliente” da equipa, o chileno Boris Garafulic: acompanhado pelo português Filipe Palmeiro, obteve o 13º posto da classificação geral. Mikko Hirvonen e Orlando Terranova não passaram do 19º e 20º lugares, respectivamente. O que deixa uma mancha negra na imagem da formação germânica…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: DPPI