A ligação Norte-Sul mais dura

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Logo após o último Natal, os entusiastas que aderiram ao 1º Desafio Norte-Sul do Camel Trophy Club Portugal arrancaram de Chaves. Uma das quatro viaturas avariou-se logo à partida...

A ligação Norte-Sul mais dura foi uma iniciativa do Camel Trophy Club Portugal e do seu carismático líder: Afonso Cerejo. A ideia foi percorrer o itinerário em redor da Estrada Nacional 2 encontrando as maiores dificuldades. Porque para os entusiastas pelo Camel Trophy, quanto mais difícil, maior será o desafio. A data escolhida foram os últimos dias de 2019, mas não choveu o suficiente para que a lama se tornasse no piso de referência…

Começaram quatro viaturas, que marcaram ponto de encontro em Chaves, junto ao ‘quilómetro zero’ da N2. Afonso Cerejo, que imaginou todo o programa, foi até lá com o seu Land Rover Series III, réplica do Camel Trophy de 1983. Rodrigo Sottomayor levou o único veículo original do Camel Trophy: um Freelander que participou na expedição de 1998, a última que foi realizada com os Land Rover. Jorge Pimenta e Luís Jerónimo participaram com dois Discovery, também réplicas do Camel Trophy. Todavia, um deles, o de Luís Jerónimo, seria desde logo substituído por um Range Rover TDV8: um problema mecânico inesperado deixou o Discovery do aventureiro bracarense fora de acção, mas não refreou o entusiasmo do seu condutor…

Entre Chaves e Vila Real pela antiga linha do Corgo

Nesta ligação Norte-Sul mais dura que os passeios que começam a criar tradição, o Camel Trophy Club Portugal escolheu um traçado invulgar para começar. Seguiu desde Chaves para Vila Real por trilhos florestais, que ocasionalmente se cruzaram com o traçado da antiga linha de caminho de ferro do Corgo. Trata-se da via férrea que foi construída no início do século passado para ligar Peso da Régua a Chaves. O troço entre Vila Real e Chaves seria desactivado em 1990, mas o troço inicial, entre a Régua e Vila Real, permaneceu em funcionamento até 2009. Nessa altura, foi encerrado para obras que, na verdade, levaram ao levantamento dos carris logo em 2010.

Um dos usos recorrentes destas vias férreas abandonadas é a criação de caminhos pedonais, onde raramente se vê alguém. A beleza dos seus traçados – e o da linha do Corgo é um dos mais belos! – poderia ser bastante explorada para fins turísticos se estivessem acessíveis a viaturas. Mas têm acabado, invariavelmente, invadidos pelo mato, que os torna impraticáveis mesmo para caminhantes. Não, claro, para um percurso que segue o espírito do Camel Trohpy. Neste caso, a ideia foi mesmo desbravar caminhos…

A caravana, junto à antiga estação de Vilela do Tâmega, uma das últimas do troço Vila Real-Chaves. O último comboio passou por aqui em 1990 e hoje grande parte do traçado está intransitável

A rota entre os rios Douro e Tejo foi o percurso mais difícil…

O percurso mais difícil foi o que os aventureiros tiveram de enfrentar no segundo dia. Sem surpresa, ou a ideia não fosse fazer deste desafio a ligação Norte-Sul mais dura. Rumo ao sul desde as margens do rio Douro, em Peso da Régua, até às margens do Tejo, em Abrantes, a caravana orientou-se pelas serras que envolvem a N2.

Foram algumas centenas de quilómetros por trilhos florestais, boa parte deles atravessando a extensa mancha de eucaliptal que preenche a região centro. As intempéries e os fogos florestais tornaram alguns destes caminhos intransitáveis. Claro que isso não se aplicou às quatro equipas do Camel Trophy Club Portugal. Sempre que encontraram árvores tombadas no caminho, foi uma alegria removê-las. Isso não só as fez reviver imagens que nos trazem à memórias as mais difíceis expedições, como permitiu reabrir ao trânsito esses caminhos.

Sobretudo na segunda etapa, realizada entre os rios Douro e Tejo, muitos caminhos tinham a passagem impedida por árvores tombadas. Nada que os aventureiros não tivessem resolvido com um sorriso…

Caminhos fechados a cadeado foram regra no Alentejo

O percurso deste desafio que traçou a ligação Norte-Sul mais dura nem sempre foi bem sucedido. Porque não houve disponibilidade para fazer um reconhecimento prévio no terreno. Seguiu-se uma linha imaginária, desenhada sobre o ‘Google Maps’, que não distingue caminhos públicos e privados.

Assim, com demasiada frequência, os aventureiros confrontaram-se com percursos impossíveis de transpor. E os obstáculos que invariavelmente fizeram os quatro Land Rover dar meia volta nunca foram as dificuldades típicas do Camel Trophy. Foram sim, os portões fechados a cadeado, que impedem a passagem em caminhos de uso particular.

Esta situação somente melhorou na secção final do percurso, após a entrada no Algarve. Então, desapareceram os portões e foi fácil progredir serra do Caldeirão abaixo, em direcção a Faro e ao ponto final desta rota.

Em três dias de marcha, percorreram-se cerca de um milhar de quilómetros, dos quais perto de três centenas em troços por fora da estrada. O 1º Desafio Norte-Sul N2 do Camel Trophy Club Portugal não foi exactamente uma expedição como o Camel Trophy. Mas adicionou a experiência para que numa próxima edição possa ser um crescendo de dificuldade. E atrair até mais alguns participantes…

Os rigores do Inverno foram mais suaves do que o esperado. E a lama faltou ao encontro, aliviando o percurso das maiores dificuldades

Texto: Alexandre Correia Fotos: Afonso Cerejo

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