Como vencer sem nunca ganhar? Para encontrarmos a resposta a esta questão, basta observarmos os resultados do Abu Dhabi Desert Challenge: a segunda prova do Campeonato do Mundo FIA de Ralis-Raids teve como vencedores a dupla Yazeed Al-Rajhi/Timo Gottschalk, que conseguiram triunfar com uma dúzia de minutos de avanço sem ganhar qualquer das cinco etapas! Tal como Sébastien Loeb reforçou a liderança do campeonato, apesar de ter sido o penúltimo nesta prova, onde os portugueses João Ferreira e Filipe Palmeiro voltaram a destacar-se no grupo T3!
Não é por acaso que falamos em vencer sem nunca ganhar, pois os resultados do Abu Dhabi Desert Challenge dão que pensar: os vencedores não só não ganharam nenhuma etapa, nem sequer o pequeno prólogo, como o melhor que conseguiram foi serem os segundos mais rápidos em duas etapas. Mas isso bastou para que Yazeed Al-Rajhi e Timo Gottschalk posicionarem a sua Toyota Hilux imediatamente atrás da de Nasser Al-Attiyah e Michael Baumel, que se instalaram no comando logo no prólogo e que, depois, foram consolidando a vantagem, etapa após etapa, até ao final da terceira jornada. Vítimas de uma aparatoso acidente, quando capotaram de frente ao voar demasiado sobre uma lomba de areia mais pronunciada, quase no final da terceira etapa, Al-Attiyah e Baumel nem por isso deixaram de vencer esse sector selectivo. Todavia, os estragos que o acidente provocou na Toyota Hilux dos Campeões do Mundo em título foram irreparáveis – sobretudo porque o arco de segurança cedeu! – e após uma inspecção realizada pelos Comissários Técnicos da FIA, os líderes foram impedidos de prosseguir em prova.
Com o abandono de Al-Attiyah, foi Yazeed Al-Rajhi quem ‘herdou’ o comando, já então contando com quase 10 minutos de avanço sobre a Ford Ranger dos checos Martin Prokop e V.Chitka. E nas duas jornadas restantes, o piloto saudita limitou-se a gerir a vantagem sem correr riscos que pudessem comprometer aquela que foi a sua primeira vitória numa prova deste campeonato. Aliás, para que não haja dúvidas em como foi verdadeiramente cauteloso, na quarta etapa limitou-se a ser o quinto mais rápido e na última tirada foi apenas sétimo mas, ainda assim, conseguiu reforçar ligeiramente o avanço para conseguir vencer sem nunca ganhar.
Adiante-se que apenas três pilotos conseguiram vencer etapas em termos absolutos: Nasser Al-Attiyah e Michael Baumel além do prólogo ganharam também as três primeiras etapas, cabendo ao BRX de Sébastien Loeb e Fabien Lurquin impor-se na quarta etapa e à Toyota Hilux oficial dos sul-africanos Henk Lategan e Bert Cummings sair vencedores da derradeira etapa. Mas o mais curioso é que nem um, nem outro, figuraram entre os primeiros classificados, já que ambos cedo conheceram problemas que os arredaram da discussão pela vitória. Lategan regressou à África do Sul com um irrelevante 26º lugar final e Loeb foi ainda pior, terminando em penúltimo. Apesar disso, os pontos que Loeb marcou em cada etapa foram suficientes para reforçar a liderança do ‘Mundial’, onde após o Rali Dakar contava apenas com um ponto de vantagem sobre Al-Attiyah, passando agora a somar mais 16 pontos! A continuar assim, bem podemos dizer que Loeb também se arrisca a vencer sem nunca ganhar uma prova do campeonato…
João Ferreira e Palmeiro mantêm sexto lugar
Na mesma ficaram os portugueses João Ferreira e Filipe Palmeiro, que se mantêm na sexta posição do campeonato reservado ao grupo T3. Embora não tenham conseguido progredir na classificação do ‘Mundial’, a verdade é que melhoraram a sua pontuação, ficando agora a apenas um e quatro pontos dos dois concorrentes que os antecedem, “o que nos oferece algumas perspectivas de subir”, como considera João Ferreira.
O vencedor da Taça da Europa FIA de Bajas e do Campeonato de Portugal de Todo Terreno no ano passado foi apenas o 23º classificado em termos absolutos no final do Abu Dhabi Desert Challenge, entre um total de 35 concorrentes à chegada; o Yamaha 1000 de Ferreira e Filipe Palmeiro foi o décimo classificado do grupo T3 e se contarmos com aqueles que pontuaram para o ‘Mundial’, coube-lhes a sexta posição.
Todavia, não podemos analisar esta participação apenas por este resultados: é indiscutível que o protótipo desenvolvido pela X-Raid e Yamaha ainda não chegou ao mesmo nível de competitividade que os Can-Am Maverick que dominam o grupo T3, mas o desempenho dos portugueses voltou a evidenciar-se por se colocarem entre os melhores!
“Esta foi a terceira prova em que acompanhei o João Ferreira e sinto que a evolução dele é notável” – como nos contou Filipe Palmeiro, adiantando que “não foi por acaso que na penúltima etapa éramos os segundos mais rápidos, logo atrás do BRX de Sébastien Loeb, até praticamente ao final do sector selectivo, quando nos atrasámos porque um pneu perdia ar e tivemos de parar para o trocar.”
Presente pela sétima vez no Abu Dhabi Desert Challenge, Filipe Palmeiro diz-nos ainda que “esta prova tem o percurso de areia mais exigente, com cordões de dunas como não encontramos em mais nenhum lugar, que tornam a condução bastante difícil, mas o modo como o João enfrentou cada etapa foi impressionante, especialmente sabendo que a areia não é ainda o terreno onde é mais forte!”
Num rápido balanço, o próprio João Ferreira afirma-se “satisfeito com o resultado, pois o atraso sofrido nas duas primeiras etapas libertou-me de qualquer pressão e daí em diante o que procuramos foi andar o mais que podíamos e na terceira etapa fomos os segundos mais rápidos do grupo T3 e na quarta etapa somente não fomos mesmo os segundos em termos absolutos devido à troca da roda, pouco antes da chegada, mas percebemos claramente que estamos em condições de lutar pelos lugares da frente, seja com quem for!” Na etapa final, a quebra de um triângulo da suspensão deixou o Yamaha dos portugueses imobilizado “num buraco entre dunas e foi como se a corrida tivesse terminado mais cedo”, indica o piloto, que agora já pensa “na próxima prova, no México” – uma estreia no campeonato, mas que não o será para os pilotos norte-americanos, nomeadamente aqueles que neste momento preenchem as primeiras posições do grupo T3: Seth Quintero, que além da vitória em T3 foi terceiro absoluto no ‘Desert Challenge’, e ainda Austin Jones, que foi segundo. Quintero soma já 127 pontos para o campeonato, mais cinco que Jones e mais 46 que o seu compatriota Mitch Guthrie, que foi sétimo no Abu Dhabi e está em terceiro no ‘ranking’ da FIA. O chileno Francisco Lopez, que não participou na prova disputada nos Emirados Árabes Unidos, é agora o quarto classificado do campeonato, com um total de 55 pontos, seguido pela espanhola Cristina Gutierrez – que acabou por desistir nesta prova… – com 52 pontos e por João Ferreira, com 51 pontos, tantos quantos amealhados pelo seu navegador; Filipe Palmeiro é igualmente sexto na classificação do ‘Mundial’ reservada aos navegadores do grupo T3.
Texto: Alexandre Correia Fotos: MCW/DPPI/D.R.