O Campeonato Angolano de Rali/Raid cumpriu já a terceira prova. Foi no último fim de semana, em terras de Benguela. No sul, tal como no norte, o vencedor foi sempre o mesmo: o Mitsubishi Pajero de Ricardo Sequeira e Jorge Monteiro. Esta dupla tem evidenciado um domínio absoluto e perfilam-se como os próximos campeões de Angola!
Malange, Dande e agora Benguela. Em três provas, o Campeonato Angola de Rali/Raid conheceu sempre o mesmo desfecho na corrida reservada aos automóveis. A superioridade de Ricardo Sequeira e do seu Mitsubishi Pajero tem sido tal, que corrida atrás de corrida, termina sempre adiantado, frente à concorrência.
É certo que a participação nesta temporada tem sido escassa. Por exemplo, no Dande, a norte de Luanda, a segunda prova do CARR reuniu somente 23 equipas. E destas, apenas meia-dúzia alinhou na classe TT. É a que está reservada aos veículos de todo terreno. No fim de semana passado, em Benguela, o Rali Baia Azul não juntou senão 17 equipas. Desta feita, os TT contaram-se com os dedos de uma mão e sobrou um dedo…
Maló Almeida monopoliza o segundo lugar
Mas da mesma forma que em três corridas houve apenas um piloto a ganhar, também isso praticamente sucede com o segundo lugar. Com excepção da primeira das três primeiras provas, a segunda posição coube sempre a Maló Almeida e João Paulo.
Falharam na prova inaugural, em Malange, onde, tal como na anterior, no Dande, Almeida e Paulo alinharam com uma “velha” Nissan Pick-up. Que embora menos competitiva, no Rali TT ROX do Dande permitiu-lhes discutir a vitória. Na verdade, o veterano Maló ofereceu forte oposição a Ricardo Sequeira na prova disputada na província do Bengo. A diferença final entre os dois primeiros foi de somente um minuto e oito segundos!
Em Benguela, Maló Almeida correu com uma Isuzu D-Max mas a maior competitividade desta pick-up não fez a diferença. Bem pelo contrário: a equipa não voltou a conseguir melhor que o segundo lugar. E terminaram a uma “eternidade” dos vencedores: mais de seis minutos e meio!
Tamanha diferença tem uma explicação: esta foi a primeira prova em que o motor de 5,0 litros a gasolina que Ricardo Sequeira instalou no Mitsubishi Pajero funcionou em pleno. E sem conhecer problemas, o jovem piloto, que chegou a correr nas provas de todo terreno em Portugal, adiantou-se ainda mais. Em cerca de 130 quilómetros cronometrados, ganhou precisamente seis minutos e 37 segundos.
Em Benguela, pelos trilhos do “Paris-Cabo”
Pedro Cristina, o grande dinamizador do Campeonato Angolano de Rali/Raid, desenhou a terceira prova do ano a sul de Benguela; foi em redor da admirável Baía Azul, a caminho da famosa Baía Farta, dois símbolos desta cidade.
Curiosamente, em 1992, muito antes de ter nascido o CARR, já por lá tinha passado uma das corridas mais fantásticas de sempre; falamos em maratonas todo terreno. O Rali Paris-Cidade do Cabo, que iniciou a fase final no Lobito, quase ao lado de Benguela.
Percorremos o primeiro sector selectivo desta fase angolana do Paris-Cidade do Cabo precisamente ao lado de Pedro Cristina. Fomos num Toyota Land Cruiser, com um veículo absolutamente de série. E mesmo em “missão” de reportagem, acabámos por perder a paciência e ultrapassámos imensos concorrentes. Que, claramente, já somente pensavam em chegar ao final da prova, na África do Sul, e rolavam em ritmo de passeio.
Nessa altura, Cristina disputava em Portugal o “Nacional” de Todo Terreno com um dos Toyota Land Cruiser da equipa Transmotor. E face ao andamento escandalosamente lento dos que queriam só chegar ao fim, esqueceu-se que não éramos participantes. Apenas jornalistas! Somente queríamos chegar a Moçâmedes ainda de dia, para escrever a crónica da jornada. Uma etapa histórica!
Quatro passagens num troço com “vista mar”
José Megre e Teresa Cupertino participaram no Paris-Cidade do Cabo, com um Nissan Patrol e um Patrol GR, ambos de carroçaria longa. Tal como Pedro Amado, numa Honda África Twin. Amado, quando nos viu em pleno troço, não deixou de parar para “dois dedos de conversa”; apenas o tempo para fumar um dos inseparáveis SG Filtro, que lhe trouxemos de Lisboa.
Quanto a Megre e Cupertino, vimo-los já depois de terminado o sector selectivo, quando regressavam da praia. Tinham ido a banhos para os lados da Lucira, já na ligação final para Moçâmedes. Naquela altura, o espírito que reinava no “Dakar” não era o de hoje!…
Sem sequer se afastar de Benguela, o Rali Baía Azul compreendeu um prólogo e quatro passagens por um troço de cerca de 35 quilómetros. Com piso por vezes arenoso, exigindo muito da capacidade de tracção das máquinas. Mas com um aspecto delicioso: a maravilhosa “vista mar”.
Terceiro posto recompensou Pedro Jesus
Regressemos à actualidade e ao CARR 2019. E a Benguela, claro. A prova do sul foi motivo de festa para Pedro Jesus. Porque foi a primeira vez que o piloto conseguiu levar o Mitsubishi Pajero ao final. O terceiro posto foi uma bela recompensa, tanto mais que rodou sempre próximo dos tempos obtidos por Maló Almeida.
Acompanhado por Carlos Couto, Pedro Jesus preparou em Angola este Pajero, de motor Diesel. Estreou-o ainda o ano passado e não teve sorte nas provas anteriores; no Dande, por exemplo, “derreteu” a embraiagem. O Rali Baía Azul foi, portanto, a primeira prova que Jesus concluiu com este Pajero. Quebrou, por fim, uma longa série de problemas.
Estreando-se em Benguela, Paulo Freire fechou a classificação dos todo terreno. Ao volante do Mitsubishi Pajero alugado a Hugo Carvalho, um carro que em Portugal foi usado por Diniz Lucas, Freire foi quarto. E se nos primeiros dois sectores ainda conseguiu andar próximo do anterior, depois as diferenças aumentaram.
Seja como for, não deixou de ser uma estreia animadora para Paulo Freire, que teve Armando Silva como navegador. A 6 de Julho, na província do Kwanza Sul, a quarta prova do CARR oferecerá novo confronto. Será a oportunidade para Freire procurar ir mais adiante na classificação. O Rali da Conda irá decorrer na zona de Uku Seles; fica a meio caminho entre as cidades do Sumbe, capital da província, junto ao mar, e da Gabela. Esta última fica já no alto da serra que lhe deu o nome e caracteriza-se pelos seus cafezais. Para os apreciadores, é a origem de um “robusta” fantástico!…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: Célio Sousa