Foi neste último domingo: os 40 anos da UMM festejados pelo clube que mantém vivo o entusiasmo pela marca portuguesa, reuniram na região de Torres Vedras mais de meia centena de unidades, bem representativas da sua história!
Norberto Liberato, que desde há alguns anos lidera o Clube UMM, era ontem um homem cansado, mas feliz. Profundamente feliz, sublinhe-se, pois celebrar os 40 anos da marca portuguesa com uma festa tão participada como a que decorreu numa quinta junto a Dois Portos, na região de Torres Vedras, foi a melhor recompensa para todos os esforços. Nesta tarefa, Liberato voltou a contar com o precioso apoio das Rotas do Oeste: operador turístico que dispõe na sua frota de diversos UMM, ou os seus responsáveis não fossem, também eles, grandes adeptos dos 4×4 produzidos em Mem Martins desde 1977 a 1993.
E embora 1993 seja o ano final de produção da UMM, na verdade o final deste ano ficou assinalado pelo termo da comercialização pública destes veículos, mas não com o encerramento da produção. Até meados de 2004 ainda se produziram múltiplas unidades; muitas para satisfazer encomendas que permaneciam em carteira, sobretudo no período imediato. Outras ainda foram fabricadas para corresponder a novas encomendas que entretanto chegaram e que foram irrecusáveis.
Uma das “estrelas” do encontro torreense foi, precisamente, a última unidade produzida pela UMM, já nas instalações de Queluz de Baixo. Trata-se de um Alter com motor turbodiesel Peugeot de 2,1 litros e especificações militares. No entanto, esta unidade, não só não chegou a ser fornecida às Forças Armadas Portuguesas, como nem sequer foi vendida a ninguém: permaneceu na fábrica e foi matriculada em Junho de 2004, para permanecer na colecção pessoal dos fundadores da UMM.
Outra presença curiosa foi a do Alter recentemente transformado por ordem da Força Aérea Portuguesa, para ser utilizado nas paradas oficiais. Norberto Liberato tinha-o visto num desfile em que transportou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que passou revista às tropas em parada a bordo do veículo.
O responsável pelo Clube UMM pensou imediatamente que seria uma peça bastante interessante para expor neste encontro. E rapidamente entrou em contacto com o departamento de relações públicas da Força Aérea Portuguesa. “O contacto foi imediato e muito positivo. Além de nos terem desde logo permitido ir visitar a unidade onde se encontrava estacionado, para fazermos um registo fotográfico, o pedido para que fosse exibido nesta festa dos 40 anos da UMM não demorou a ser correspondido”, contou-nos Norberto Liberato.
Também raros, pois foram produzidas muito poucas unidades, são os UMM Alter “autocaravana”. E neste encontro estiveram presentes duas unidades, completamente diferentes entre si, mas ambas cheias de história.
Uma foi utilizada durante longo tempo pela própria UMM, nomeadamente em acções de apoio à equipa de competição que representou oficial a marca nas provas nacionais de Todo Terreno. Hoje é propriedade dos gémeos Carlos e Rogério Almeida. Ambos eram pilotos que chegaram a integrar a formação oficial da UMM. Nunca perderam o enorme entusiasmo que sempre sentiram pela UMM. Na colecção pessoal, os dois irmãos contam com algumas unidades emblemáticas, peças fundamentais, digamos assim, para contar a história da marca.
E se a autocaravana que pertenceu à equipa de competição da UMM é um Alter, com chassis normal e motor 2,5 litros atmosférico, a segunda unidade presente neste encontro é não só mais recente, como completamente diferente. “Trata-se de um Alter Turbo de chassis longo”, explicou à Todo Terreno o seu actual proprietário, Diogo Bordalo.
“Comprámo-lo há cerca de três anos e já estava transformado em autocaravana, mas a secção posterior encontrava-se muito danificada e, além disso, pareceu-nos pouco funcional. Daí que decidimos, ao recuperar o veículo, aproveitar também para desenhar uma nova secção traseira”, contou Diogo Bordalo. Entre as modificações introduzidas, conta-se uma grande porta atrás, “pois o acesso era todo feito pelo interior, através do rebatimento do banco do passageiro da frente”. A configuração do espaço atrás “também sofreu diversas alterações, até porque, entretanto, a família cresceu e precisavamos de mais alojamento para os miúdos”, revelou este entusiasta.
Bastante curiosa é a história da autocaravana de Diogo Bordalo. Segundo nos contou, este UMM foi encomendando para servir de alojamento itinerante para um professor de inglês que foi deslocado para dar aulas no Togo. Como autocaravana, esta unidade era muito básica, mas cumpriu a sua função e depois de anos a rolar em África, regressou do Togo e recebeu pela primeira vez matricula portuguesa.
Antes de ter sido adquirido por Diogo Bordalo, o veículo já tinha tido outro proprietário, que também o usou bastante para viagens, inclusive em África. “Encontrei junto dos documentos os papéis da alfândega de Marrocos”, disse-nos o actual dono desta autocaravana, que se tornou na casa de férias rolante deste casal e dos seus dois filhos, todos presentes na celebração do 40º aniversário da UMM.
A presença mais relevante entre as mais de meia centena de unidades da UMM que desfilaram neste encontro promovido pelo Clube UMM foi, sem dúvida, o único sobrevivente do Alter III.
Trata-se de um dos três protótipos que foram construídos para preparar a introdução no mercado de um modelo que pudesse não só substituir os Alter II, como assegurar um mercado bastante mais vasto.
Além de maior, o Alter III dispunha já de uma suspensão bastante mais confortável, com molas helicoidais ao invés das molas semi-elípticas dos outros modelos. O interior não só reflectia o maior espaço, como era dotado já no início dos anos 90 de alguns detalhes ainda raros nesta classe de veículos, nomeadamente os bancos dianteiros de regulação eléctrica.
Depois do projecto ter sido abandonado, ditando com isso o final da produção regular dos UMM, estes três protótipos foram abandonados. E esta unidade, não só é a única que se salvou, como também é a única que foi construída para estar apta a circular. Foi salva, literalmente, por Miguel Gomes, ele mesmo um dos antigos responsáveis pelo Clube UMM, que o adquiriu e recuperou, pondo-o de novo a circular. No entanto, o Alter III já se encontrava imobilizado há largos anos e voltou a ser exibido apenas de forma estática. “Tem algumas avarias que estão por resolver”, justificou Miguel Gomes, adiantando à Todo Terreno que “o pedido de Norberto Liberato para que o trouxesse a este encontro foi irrecusável e mesmo tendo sido transportado num reboque, pôde ser apreciado por todos”. E muito bem apreciado, até porque alguns dos “pais” do projecto Alter III estiveram entre os convidados desta acção de 40 anos da UMM festejados pelo clube.
Texto: Alexandre Correia
Fotos: AC/Todo Terreno