De Moscovo a Xian, a antiga capital imperial da Terceira Dinastia chinesa, passando por Astana, a nova capital do Czaquistão, são quase 9600 quilómetros que a caravana do Silk Way Rally terá de cumprir em 14 etapas, até 22 de Julho. Volvidos os dois primeiros dias de prova, os três Peugeot estão à frente. Mas a liderança já passou de Sébastien Loeb para Stéphane Peterhansel. Adivinha-se um duelo?
A sétima edição do Silk Way Rally arrancou este sábado em Moscovo, da emblemática Praça Vermelha. Até ao próximo dia 22 de Julho, os concorrentes terão de percorrer um total de 9.599,6 quilómetros, repartidos por 14 etapas, a mais longa com 908,8 km e a mais curta com apenas 412,9 km – e ambas no Cazaquistão, onde serão cumpridas cinco etapas, logo a seguir às três primeiras, na Rússia, e antes das seis finais, na China.
Desportivamente, há um total de 17 sectores selectivos para se decidirem os resultados: o troço cronometrado mais curto, com apenas 61,43 km foi já cumprido, na jornada de abertura, mas o mais longo, com 488,65 km, só terá lugar na 11ª etapa, no coração da China.
A cada país, corresponde um cenário predominante: na Rússia é entre florestas que automóveis e camiões rolam em contra-relógio, encontrando as pistas de terra enlameadas, devido às chuvas que têm caído. A partir de terça-feira, quando a caravana entrar no Cazaquistão, serão as estepes a marcar o terreno, com pistas de terra duras, mas rolantes. Já na China, haverá mais seis dias de corrida, que começam com as dunas gigantes do deserto do Gobi. E como o mais difícil fica reservado para o final, a entrada na China é antecedida por uma jornada de intervalo…
Peugeot sem concorrência?
É verdade que com apenas duas etapas cumpridas, que não representam senão cerca de cinco por cento da distância dos sectores selectivos, ainda é demasiado cedo para se pensar num resultado final. No entanto, também não é menos certo que os três carros da Peugeot enfrentam aqui uma concorrência enfraquecida. Ao novo 3008 DKR Maxi de Sébastien Loeb juntam-se os dois 3008 DKR de Stéphane Peterhansel e de Cyril Despres, que têm basicamente apenas de enfrentar três Mini John Cooper Works: um entregue ao saudita Yazeed Al Rajhi, outro para o norte-americano Bryce Menzies (detentor do maior “voo” ao volante de um 4×4!…) e ainda para o russo Vladimir Vasilyev.
Para que este confronto fosse mais equilibrado, fazem falta as três Toyota Hilux “oficiais” que estavam inscritas, para os sul-africanos Giniel De Villiers e Leeroy Poulter, e para o qatari Nasser Al-Attiyah. Esta ausência, anunciada apenas uma semana antes do arranque do rali, deixou literalmente furiosos os responsáveis pela organização do Silk Way Rally – o antigo piloto russo da Kamaz, Vladimir Chagin, e o francês Frédéric Lequien.
Tudo porque a Toyota esperava que a organização russa adoptasse a nova regulamentação técnica para o Rali Dakar 2018, que aparentemente irá oferecer um pouco mais de equilíbrio aos veículos 4×4 e com motores a gasolina, como são as Hilux 4.7 V8 preparadas na África do Sul, ao mesmo tempo que deverão reduzir a vantagem enorme de que dispõem os buggys 4×2 e os motores Diesel, como os carros da Peugeot.
Segundo o responsável pela equipa Toyota Gazoo Racing, Glyn Hall, “consideramos que o Silk Way Rally é uma das provas de todo terreno mais duras do calendário internacional, mas este ano não faria sentido estarmos presentes, pois estamos empenhados no desenvolvimento das especificações para 2018 e deslocar para Moscovo carros ainda com as características de 2017 seria um esforço que podia pôr em risco o trabalho para o próximo Rali Dakar”.
A decisão da equipa oficial da Toyota acabou por forçar a Overdrive Racing, que faz correr a Toyota Hilux conduzida por Nasser Al-Attiyah, a cancelar igualmente a presença na “Rota da Seda”. A equipa belga partilha com a formação oficial sul-africana os meios de assistência em prova e, sem esse suporte, deixou de reunir as condições necessárias para garantir a participação do piloto do Qatar. E logo à partida os três homens da Peugeot perderam pelo menos dois dos seus mais directos adversários, já que tanto al-Attiyah, como De Villiers, apostavam em desforrar-se do “desastre” sofrido no último Rali Dakar…
Lama marca primeiros dias
A chuva que caiu nos últimos dias nas paragens do interior da Rússia, ao longo das margens do rio Volga, deixou os caminhos de terra enlameados, mas isso não condicionou o desempenho dos Peugeot oficiais: na primeira e na segunda etapas, cumpridas neste fim-de-semana, coube aos carros da marca francesa o domínio total, assegurando sempre os três primeiros lugares.
Na jornada de abertura, com 726,95 km entre Moscovo e Tcheboksary, coube a Sébastien Loeb impôr-se como o mais rápido, vencendo na estreia do Peugeot 3008 DKR Maxi. Trata-se do novo carro da Peugeot que está a ser desenvolvido para o “Dakar” do próximo ano; a primeira unidade concluída foi confiada desde já ao piloto da Alsácia, nove vezes Campeão do Mundo de Ralis. Foram somente 61,43 km cronometrados, onde Loeb se adiantou 29 segundos ao seu companheiro Stéphane Peterhansel, batendo por mais de dois minutos o terceiro piloto da equipa, Cyril Despres, que saiu vencedor da edição anterior desta prova.
Entretanto, neste domingo, a etapa de Tcheboksary a Ufa incluiu um sector selectivo com quase o triplo da distância: foram 157 km cronometrados, entre um total de mais 785,63 km da etapa. E com as mesmas condições enlameadas, a superioridade dos Peugeot voltou a evidenciar-se, mas com novos protagonistas.
Na segunda etapa, Loeb abriu a pista e foi ele quem desenhou as melhores trajectórias, para que os seus colegas de equipa pudessem “ler o terreno” e tirar partido da leitura das marcas do primeiro carro. Graças a isso, Peterhansel ganhou um minutos e 47 segundos a Loeb, que foi igualmente batido por Despres, ainda que este apenas lhe tenha ganho somente um segundo.
Assim, se Despres continua em terceiro, esta segunda-feira, à partida de Ufa, para os 876,39 km da última etapa na Rússia, será o 3008 DKR de Peterhansel que arrancará na frente, agora que lidera a prova, com uma vantagem de um minuto e 18 segundos sobre Sébastien Loeb.
Arranque amargo para os Mini
O início da prova não podia ter sido mais amargo para os Mini oficiais: o piloto de “ponta” da equipa alemã, Yazeed Al Rajhi, arrancou na manhã de domingo em quarto, logo atrás do Peugeot de Cyril Despres, mas uma saída de pista já na parte final do sector selectivo custou-lhe um atraso enorme.
Embora o Mini John Cooper Works seja um veículo de tracção integral, o piloto saudita nem assim conseguiu evitar sair da estrada, numa passagem bastante enlameada. E o pior é que o carro ficou enterrado num lamaçal junto à berma, de onde somente saiu depois de duas horas de esforços intensos. Claro que há ainda mais de 3800 km em contra-relógio por cumprir, que certamente permitirão a Al-Rajhi recuperar, mas estas mais de duas horas de atraso relativamente aos homens da frente dificilmente serão anuladas.
Para o Team X-Raid, a equipa que faz correr os Mini oficiais, as atenções estão agora centradas no norte-americano Bryce Menzies, que “herdou” o quarto lugar, subindo uma posição face ao atraso do seu colega árabe. Menzies é sobretudo conhecido por outro tipo de aventuras ao volante, ou não seja dele o recorde do voo mais longo com um 4×4, depois de um salto de mais de 150 metros!
O Mini de Menzies é o único 4×4 posicionado entre os cinco melhores, depois das primeiras duas etapas. Atrás do “yankee” segue mais um buggy, o Geeley SMG do chinês Han Wei!…
Duelo nos camiões!
Entre os camiões, também se assistiu a uma troca de comandantes da primeira para a segunda etapas. No dia de arranque, o triunfo foi protagonizado pelo Tatra do checo Martin Kolomy, mas na segunda etapa foi o Renault Sherpa do holandês Martins van den Brink quem ganhou.
Kolomy, por sua vez, não conseguiu ficar entre os mais rápidos e ao perder 11 minutos e meio, desceu para o quinto lugar da classificação, sendo ultrapassado não só por Van den Brink, como ainda pelos Iveco de Gerard De Rooy e do cazaque Ardavicius, bem como pelos Kamaz de Anton Shibalov e Dmitri Sotnikov.
À partida para a terceira etapa, que terminará já no Cazaquistão, os dois primeiros camiões arrancam separados por apenas 13 segundos, pelo que se perspectiva de novo um duelo pela liderança e a dúvida que se coloca é quem sairá da Rússia à frente? Porque a etapa, com um total de 876 km, terá 329,25 km cronometrados, a decorrer ainda entre as florestas russas…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: D.R.