Foi um dia perfeito, este sábado passado em terras de Grândola, juntamente com o Clube de Aventura e Todo Terreno Turístico. Começou com o céu tingido de vermelho a nascente e terminou com o céu de novo colorido de vermelho a poente. Entre uma coisa e outra, as horas foram passando quase sem darmos conta; a passear entre a Praia da Aberta Nova, junto a Melides, e a vila que ficou para sempre associada à canção de Zeca Afonso. Que ontem, depois deste dia de Verão prolongado, ainda estava morena.
Patrício Moreira é um forte entusiasta pela vertente mais lúdica do todo terreno. Leitor assíduo da revista Todo Terreno desde há longo, longo tempo, fundou há alguns anos o Clube de Aventura e Todo Terreno Turístico. A missão do CATTT é promover regularmente passeios fora da estrada, com regras específicas, que estimulam bastante o convívio. as inscrições são sempre muito limitadas, os programas nunca preenchem mais de um dia e as refeições são piqueniques. Cada um come o que traz de casa e como a ideia é que estes passeios sejam realizados em família. quem tem crianças trá-las e até os cães têm lugar…
Primeiros quilómetros nas areias da pista do gasoduto
Neste último sábado, finalmente proporcionou-se irmos ao encontro de Patrício e da sua pequena equipa, para acompanharmos o último passeio que o CATTT organizou em 2020. “Já temos duas acções aprovadas e devidamente licenciadas, prontas a realizar-se, que reservamos para o próximo ano”. No breve discurso de despedida, já num jardim em Grândola, Patrício Moreira revelou os planos para 2021. “Este ano tivemos de cancelar dois passeios, mas contamos que a partir da Primavera retomemos a actividade com esses programas”, assegurou.
Não chegámos a ir até à praia da Aberta Nova, para o ponto de partida e falhámos os primeiros quilómetros deste dia perfeito, integralmente decorrido em terras do concelho de Grândola. “As potencialidades deste concelho são óptimas para um passeio de um dia”, considera Patrício. “Desenhar o passeio sem sairmos do mesmo concelho tem a vantagem de simplificar o processo de licenciamento, que não só requer menor antecipação, como minimiza os contactos”.
Percurso bastante equilibrado quase sem ver asfalto
Cruzámo-nos com a caravana em Melides. E a partir dali, seguimos com o grupo, ora logo atrás do líder, ora apenas à frente do ‘carro vassoura’; eram dois dos quatro Nissan Terrano II, que faziam deste o modelo mais representado. Jeep’s eram dois, um dos primeiros Cherokee, a gasolina, e um Grand Cherokee. Tal como contámos dois Toyota: um HDJ80, em estado original e impecável, e um RAV4 de duas rodas motrizes, bastante recente. Um Volkswagen Touareg, um Mitsubishi Pajero longo e dois Suzuki Vitara 4×4, da primeira e da última geração, completavam este grupo, a que se juntou o nosso Range Rover.
Os 13 veículos permaneceram quase colados na parte inicial da abordagem aos trilhos serranos. Não só porque esta foi a fase mais lenta do percurso todo, como a única de ‘horizontes’ curtos, em que apenas se víamos o que estava mesmo à volta. Oscilando entre ladeiras e covas, fomos gradualmente subindo a serra, até ao cume. Alcançámo-lo quando chegámos a Santa Margarida da Serra. E aqui foi de novo ponto para mais uma breve paragem, estava a meio a manhã daquele que seria um dia perfeito a passear em todo terreno…
Entre os antigos coutos mineiros da Caveira e de Lousal
O ponto alto do itinerário foi entre dois antigos coutos mineiros, ambos propriedade da mesma companhia, a Sapec, mas igualmente desactivados. Falamos as minas da Caveira, escondidas no cimo de um outeiro a dois passos do lugar do Canal Caveira, e das minas do Lousal.
Nas primeiras quem não souber das minas, também não perceberá, pois os vestígios são pouco evidentes. Terão sido os romanos, há dois milénios, os primeiros a explorar minério na Caveira, mas as grandes minas da nossa era remontam a 1853. E a actividade foi encerrada na década de 1960. Já nas segundas, assim que vislumbramos a povoação de Lousal, tem-se percepção de entrar numa zona mineira.
Encerradas há cerca de três décadas, as minas de Lousal foram há alguns anos transformadas num dos inúmeros museus da rede de ciência viva. Isso permitiu preservar um importante património industrial, que retrata uma época entretanto desaparecida. Hoje, as minas já não são assim. Modernizaram-se de tal modo que perderam algum desse encanto. Por um lado, felizmente, pois as condições de vida eram extraordinariamente duras. Regra geral, os mineiros morriam prematuramente, devido ao acumular de poeiras tóxicas nos pulmões. O Lousal, onde ainda residem alguns velhos mineiros, foi sempre uma terra rica em viúvas e órfãos…
Piquenique na capela de Lousal, para uma pausa merecida
Uma hora de meia de paragem, com a caravana estacionada junto à capela de Lousal, foi mais do que suficiente para o piquenique. Um após outro, todos os jipes foram abrindo as bagageiras e de lá sairam mesas e cadeiras desmontáveis. Todos os participantes vieram bem preparados para o almoço ao ar livre. Todos menos nós, que nem mesa, nem cadeira, nem sequer nada para comer. Absolutamente nada!
O ambiente do piquenique foi de convívio para uns e de descanso para outros. Não nos faltaram convites para provar desta e daquela mesa, nem sequer uma cadeira para também descansarmos. Porque mesmo falhando o início do percurso, a nossa jornada começou ainda era noite cerrada…
As crianças e os cães foram dos que mais apreciaram a pausa. Ambos brincaram e pularam, sem que, aparentemente, se tivessem cansado. E percebemos que as crianças tinham mais ‘fome’ de brincar, ao contrário dos cães, que fartaram-se de correr de mesa em mesa, a ver o que sobrava para eles.
Tarde passou num instante, de Lousal até Grândola
Não andámos de mesa em mesa, mas registámos com agrado um detalhe: ao almoço, não vimos ninguém servir-se de bebidas alcoólicas. Curiosamente, também ninguém trazia consigo uma máquina de café, ‘acessório’ que muitos já não dispensam quando saem para passear no campo. Mas como a generalidade não nos pareceu dispensar um café, depois do almoço quase todos foram satisfazer esse desejo no Café da Mina, onde reencontrámos a simpática Marisa, de sorriso contagiante.
Desde a Primavera que não passávamos por estas paragens e Marisa associou-nos logo à presença de uma caravana de jipes. Estava certa! Antes de partirmos, Patrício Moreira tocou a reunir e convidou-nos a fazer uma breve apresentação da última edição da revista Todo Terreno. Em minutos, demos conta do rumo desta nova fase do nosso projecto editorial. E registámos com imenso agrado que a maioria dos participantes deste passeio são leitores da Todo Terreno.
São estes encontros que nos permitem associar um rosto ao nome dos leitores que nos acompanham. Não só aqui, mas sobretudo através das páginas da revista, cujos conteúdos são inéditos. Jamais se cruzam com as publicações ‘on-line’.
Para o ano há mais, promete do Clube de Aventura e T.T.T.
Não partimos de Lousal sem descrever uma ronda completa pelo antigo couto mineiro. O caminho desenvolve-se ao longo de diversas lagoas de água forte, que ainda contêm os detritos resultantes da lavagem de minério. Curiosamente, a pista é também delimitada por um ribeira. Tem um nome que hoje todos repetem, constantemente: Corona.
A terminar um dia perfeito de passeio, o sector final não chegou sequer a uma hora de caminho. Levou-nos a oscilar de um lado para o outro do IC1, como hoje se chama à estrada que atravessa Portugal de norte a sul. E não falamos da cada vez mais célebre ‘N2’. O IC1 tem traçado mais próximo da costa. Nesta zona, entre Grândola e Aljustrel, estamos a escassos quilómetros da ‘N2’, que tem por aqui o ponto mais próximo da costa.
Tal como de manhã, ao arranque, terminámos com a caravana a desenhar longas sombras nas bermas do caminhos. Mas agora, apontam para o lado contrário. E o sol já estava baixo quando alcançámos Grândola. O desfile até ao centro foi rápido, tal como rápidas foram as despedidas. Ficou a promessa de mais passeios no ano que vem. “Lá para a Primavera, que o Outono passa depressa e o Inverno é pouco convidativo a sair para estes caminhos…”, rematou Patrício Moreira. E, para usarmos a frase que melhor descreve o que vivemos nesta jornada desde Melides da Grândola, um dia perfeito requer um sol radioso… Este foi mesmo um dia perfeito. Logo veremos quando se repete?
As últimas imagens da jornada, para mais tarde recordar
Texto: Alexandre Correia Fotos: André Palma e A.C./Todo Terreno