Apresentado nesta manhã de 11 de Junho, o próximo Rali Dakar reflecte perfeitamente a herança de Paulo Gonçalves. As maiores novidades não são o percurso inédito, mas sim a estreia de uma série de regras. E entre as mais importantes de todas, temos de destacar as que serão implementadas no sentido de salvaguardar a segurança dos concorrentes. E dos pilotos das motos, muito em particular. Para que acidentes como o que vitimou Paulo Gonçalves não aconteçam mais!
O próximo Rali Dakar será disputado de 1 a 15 de Janeiro próximo. Os dois primeiros dias do ano são reservados às operações de verificação das viaturas e da documentação dos concorrentes. No dia 3 de Janeiro, em Jeddah, junto à costa do Mar Vermelho, a prova arranca para a primeira de uma dúzia de etapas. A 9, esta série é interrompida em Ha’il, no nordeste da Arábia Saudita, para a tradicional pausa de 24 horas. Depois, o rali prossegue com mais seis etapas, terminando com o regresso ao ponto de partida.
E quando referimos que a próxima prova reflectirá a herança de Paulo Gonçalves, é porque toda uma série de novas medidas que acabaram de ser anunciadas, têm por objectivo evitar que ocorram acidentes como o que vitimou o piloto português…
Itinerário não repete nem um metro da edição anterior!
“Ao centrarmos em Jeddah a partida e a chegada da prova, facilitamos imenso toda a logística, nomeadamente para os concorrentes”, assegurou David Castera, o director da prova, ao apresentar o Rali Dakar 2021. “Deste modo, dois dias após a conclusão da prova, todas as viaturas já terão sido embarcadas para o regresso aos pontos de origem”, sublinhou ainda Castera.
“Será também em Jeddah que teremos um prólogo, a abrir a prova”, adiantou o director do Rali Dakar, que remeteu para “nova conferência de imprensa, a meio de Novembro”, a revelação dos detalhes do percurso. “Para já, o que posso adiantar é que não se repetirá um metro de percurso selectivo da edição anterior!” Na verdade, tudo será, “rigorosamente novo!” E mais importante do que isso, o percurso reflecte uma nova filosofia…
Segurança reforçada com novas regras
As novas regras que estabelecem padrões de segurança mais apertados são como que a herança de Paulo Gonçalves. Em primeiro lugar, David Castera anunciou que “todos os ‘motards’ terão de vestir sempre um colete insuflável”, que em caso de queda se enche instantaneamente de ar. “Funciona como um ‘air bag’ que reduzirá bastante o risco de lesões em caso de queda”, explicou o director do Rali Dakar. Além disso, há outra novidade, determinada para reduzir o potencial de acidentes: As zonas perigosas estão devidamente assinaladas no road-book, mas “a partir de agora, as de grau dois e três serão anunciadas por um sinal sonoro, que é emitido 200 metros antes”.
Mas o responsável desportivo do Rali Dakar está ciente que a competitividade dos pilotos, por vezes, leva-os a correr riscos excessivos. E para contrariar isso, “criámos zonas de velocidade máxima limitada a 90 km/h em pontos que consideramos tornarem-se perigosos a velocidades mais elevadas”. Aliás, de um modo geral, “o novo percurso reflecte bastante esta nova filosofia, preferindo traçados mais técnicos, do que aqueles em que a velocidade pura é determinante”.
Ainda voltando às novas regras que se aplicam apenas aos ‘motards’, David Castera salienta mais duas, que também podemos considerar integrarem a herança de Paulo Gonçalves: “Daqui em diante, os ‘motards’ terão de gerir muito bem o desgaste dos pneus!” E isso “porque só poderão utilizar um total de seis pneus para a roda traseira”. Esta restrição não quer dizer, necessariamente, que possam trocar o pneu traseiro dia-sim, dia-não. Será conveniente guardar uma reserva para emergências, como um furo… “O que obrigará a uma gestão mais inteligente da condução e, esperamos, aumentará o equilíbrio, tal como reduzirá os acidentes”, estima David Castera.
‘Road-book’ entregue sempre 10 minutos antes da partida
Solução estreada o ano passado no Rali de Marrocos e repetida este ano em metade das etapas do ‘Dakar’, a distribuição do ‘road-book’ apenas 10 minutos antes da partida de cada etapa passa a ser uma realidade em…todas as etapas! “Será mais um factor de equilíbrio, mas também uma forma de elevar a importância dos navegadores”, considera David Castera.
Para o director da prova, “a entrega dos ‘road-books’ no último momento realçará o papel dos navegadores. Terão apenas 10 minutos para estudar o percurso e estabelecer a sua própria estratégia”. E tudo leva a crer que os ‘map-man’ vão perder o emprego: não conseguimos imaginar como conseguirão ‘cartografar’ o percurso indicado no ‘road-book’ em duas mais cheias de minutos?
E para reduzir ainda mais a desconfiança de um exército de ‘map-man’ a cartografar cada página do ‘road-book’ em minutos, a organização reserva outra surpresa: “Algumas categorias, receberão uma versão electrónica do ‘road-book’, elaborada com cores e com todos os detalhes necessários para uma boa navegação”.
Veículos do ‘futuro’ e do ‘passado’ têm lugar no Rali Dakar
A próxima edição do ‘Dakar’ propõe reunir em prova quer os veículos do ‘futuro’, mas também dos do ‘passado’. Estes últimos são todos os veículos clássicos, anteriores ao ano 2000, ou seja, que tenham competido nas décadas de 1980 e 1990. Para eles, a A.S.O. reserva uma prova paralela, em que as classificações se definem pelas regularidade, não pela velocidade; pelo menos aparentemente…
Quanto aos veículos do ‘futuro’, podemos designar os que se movem com novas soluções, sejam puramente eléctricos ou simplesmente híbridos. Não são propriamente uma novidade, até porque a estreia de um buggy eléctrico já tem alguns anos e na edição anterior contaram-se duas motos, um buggy e um camião híbridos. Ainda que os motores de combustão não estejam “condenados” no Rali Dakar, a ideia é estimular a participação de mais viaturas com este tipo de inovações; até ao dia em os motores movidos por combustíveis fósseis só se mantenham na categoria de…’clássicos’!
Texto: Alexandre Correia Fotos: A.S.O./Direitos Reservados
2 comentários
Mais um excelente artigo desta magnifica revista.
Grandes novidades para uma das maiores provas TT do mundo.
Quem sabe se não será desta que alguns clássicos destas andanças não saem da garagem para regressarem à aventura.
Caro Norberto, na verdade, esta nova categoria merecia o regresso dos UMM ao Rali Dakar. E se fosse em 2022, esse regresso seria ainda mais simbólico, 40 anos depois da estreia…