A organização da Baja T.T. Vindimas do Alentejo e o Clube UMM reuniram esforços para que esta prova fosse também a oportunidade para uma homenagem aos 4×4 de fabrico português e a um dos seus mais carismáticos pilotos: “Tucha”, que desde o primeiro momento esteve ligado quer ao projecto da marca, quer ainda ao seu envolvimento na competição. Enquanto mecânico, foi um dos elementos da equipa que se estreou no Paris-Dakar, em 1982. E, mais tarde, acabaria por se tornar também ele piloto, que marcou uma fase das provas nacionais, onde quase sempre representou a UMM.
“Tucha” pôs a funcionar o UMM Alter V6 com que correu pela equipa oficial e neste regresso ao activo, fez renascer os velhos duelos com a Nissan Pick-Up, ao ganhar o prólogo, batendo precisamente uma das “camionetas” japonesas. Assinale-se que cinco dos 11 concorrentes à Taça de Portugal de Todo Terreno surgiram com os UMM, num raro encontro em competição de tão numerosa caravana destes veículos.
E se a presença de “Tucha” na corrida do Clube de Promoção de Karting e Automobilismo é uma agradável surpresa, a cereja em cima do bolo foi a presença no prólogo, como veículo de abertura da prova, de outro UMM histórico, tripulado por uma equipa não menos histórica: o Alter Turbo “Troféu” com as cores do Diário de Notícias, que ganhou uma temporada do Troféu UMM com os gémeos Almeida. Rogério e Carlos, ou Carlos e Rogério, desfilaram pelos 5,1 quilómetros do prólogo, de buzina colada.
Vimo-los passar com um sorriso rasgado, certos de que se riram o percurso todo e que se divertiram imenso com a experiência. Pela nossa parte, sentimo-nos a regressar ao passado, recuando pelo menos três décadas e ao tempo em que não imaginávamos que ainda hoje estaríamos a fazer as mesmas reportagens, com o mesmo gosto. Muito menos, reencontrando em acção alguns protagonistas desses tempos…
Duelo de Campeões marcou a primeira etapa
A Baja T.T. Vindimas do Alentejo arrancou este sábado com uma jornada que deixa perspectivar uma nova temporada muito animada, ao nível do Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48. Mas um duelo de campeões marcou a primeira etapa, onde se evidenciaram os actuais titulares do CPTT e os que recentemente lhes passaram o testemunho. Por outras palavras, a etapa foi dominada por um intenso duelo entre as duplas João Ramos/Victor Jesus e Tiago Reis/Valter Cardoso. A Toyota dos primeiros andou quase sempre à frente, mas os quilómetros finais foi batida pelo Mitsubishi dos segundos; que passaram a primeiros…
Os primeiros heróis do dia foram Alejandro Martins e José Marques: na segunda participação ao volante do Mini John Cooper Works Rally, o piloto da AM|48 chamou a si a vitória no prólogo por apenas oito décimos de segundo. Foi mesmo por esta pequena margem que Alejandro Martins quebrou a invencibilidade de João Ramos nos prólogos!
Todavia, logo nos primeiros quilómetros, “o Mini começou a acusar um sobre-aquecimento do motor”, referiu à Todo Terreno José Marques, o navegador de Alejandro Martins. O registo no primeiro controlo de passagem, instalado ao fim de apenas 27,94 quilómetros, posicionava o Mini de Martins e Marques na penúltima posição. Os primeiros líderes levavam já um atraso de mais de um quarto de hora sobre os novos comandantes: João Ramos e Victor Jesus, que dispunham nesta fase de uma vantagem de 25,7 segundos sobre Tiago Reis e Valter Cardoso.
Como o motor do Mini não parava de aquecer além do normal, Alejandro Martins aproveitou a intersecção com uma estrada de asfalto para deixar o percurso. E o abandono foi a opção mais sensata para não massacrar a mecânica…
Só os dois mais rápidos trocaram de posições
Volvidos mais cerca de 120 quilómetros, a diferença entre os dois mais rápidos era praticamente a mesma, mas no último troço da etapa, as posições inverteram-se: o Mitsubishi Racing Lancer dos actuais Campeões de Portugal de T.T. regressaram a Beja com 25,3 segundos de avanço. E só nos derradeiros quilómetros, conseguiram o que ninguém esperava: recuperar um atraso de 24 ,6 segundos e conquistar tamanha vantagem!
“Em cerca de 36 quilómetros, o Tiago conseguiu ganhar-me 50 segundos, o que nunca imaginei, pois mantive o mesmo ritmo, muito forte, sem erros ou quaisquer dificuldades”. Estas palavras são de João Ramos, que se revelou “absolutamente surpreso” com a inversão das posições.
Contudo, Tiago Reis disse-nos que “quando soube que estava a menos de meio minuto e ainda tinha cerca de uma trintena de quilómetros para percorrer, achei que ou arriscava tudo, ou ficava para trás”. E não só arriscou, como ganhou a jornada, protagonizando com Ramos e Victor Jesus um duelo de campeões de ainda está longe de concluído: domingo, repetem-se os 151,61 quilómetros deste sector selectivo, que a generalidade dos pilotos que escutámos, foi unânime em considerar “um dos mais interessantes de sempre!”
Mini de Luís Recuenco monopoliza terceiro lugar
Ao longo de todo o sector selectivo, a terceira posição foi monopolizada pelo Mini Countryman de Luís Recuenco e Vitor Rodriguez. A dupla espanhola, os primeiros clientes da Mracing, depois do acordo de representação da X-Raid, foi sempre perdendo tempo para os dois homens da frente. À chegada a Beja somavam um atraso de cinco minutos e um segundo para o comandante. Mostrando estar cada vez mais familiarizado com o Mini que adquiriu a meio do ano passado, Recuenco só não conseguiu mesmo acompanhar João Ramos e Tiago Reis; mas manteve à distância os adversários que o seguiram na classificação. E nem sempre foi o mesmo piloto a surgir na posição imediata…
Desde o prólogo e até pouco mais de metade do sector selectivo, o quarto lugar esteve por conta de Nuno Matos e Joel Lutas. Aliás, partiram mesmo para o primeiro sector selectivo à frente de Recuenco; mas depois, não só não conseguiram contrariar a recuperação do espanhol, como acabaram por atrasar-se. Nuno Matos explicou-nos que “o motor da Fiat Full Back proto foi perdendo gradualmente força e deixámos de conseguir manter o mesmo ritmo”. O que se reflectiu no resultado à chegada a Beja: foram sextos, atrás do Mitsubishi/Ford V8 de Manuel Correia e Miguel Ramalho, e da Ford Ranger de André Amaral e Nelson Ramos, que terminaram separados entre si por cerca de dois minutos.
E enquanto Manuel Correia estava bastante satisfeito com a sua prova, “pois correu tudo lindamente e deu-me muito prazer conduzir nestas pistas”, André Amaral também se lamentava que esperava melhor. Segundo este piloto, o motor V8 a gasolina da sua pick-up nem sempre trabalhou nas melhores condições. E já depois de concluído o sector selectivo, ainda apanhou um susto enorme, ao perder uma roda, quando seguia na estrada. De toda a maneira, André Amaral e Nelson Ramos tinham ficado no sexto lugar do prólogo, pelo que ainda subiram uma posição na classificação, ao terminarem a primeira etapa.
A maior recuperação entre os primeiros foi a de Paulo Rui Ferreira e Jorge Monteiro. No prólogo, a dupla de Leiria colocou a sua Toyota Hilux na 11ª posição, mas no decorrer do primeiro sector selectivo, foram subindo lugares atrás de lugares. Entraram em Beja na sétima posição e entre os 10 melhores, foram eles quem ficou com a diferença mais reduzida para o concorrente anterior: apenas 15 segundos de atraso sobre a Fiat de Nuno Matos e Joel Lutas.
“Preocupámo-nos em descobrir o motivo da quebra de rendimento do motor e se esse problema estiver resolvido, domingo vamos atacar e procurar melhorar o resultado”, disse-nos Nuno Matos. Mas se o problema subsistir, “procuraremos apenas garantir uma classificação à chegada”, o que os tornará nuns adversários fáceis de bater, pela parte de Paulo Rui Ferreira e Jorge Monteiro.
Um Can-Am entre os dez mais rápidos…
Novidade nesta Baja T.T. Vindimas do Alentejo é a inclusão de viaturas do grupo T3 entre os participantes na corrida dos automóveis. Os “aventureiros” são os irmãos Alexandre e João Pedro Ré. Sem disporem na Volkswagen Amarok da South Racing, encontraram num Can-Am a “solução” que lhes permitiu vir correr ao Baixo Alentejo.
“Estas viaturas são muito divertidas, mas estão bastante limitadas em termos de velocidade de ponta. E isso limita-as especialmente, num traçado como o de Beja”, contou-nos Alexandre Ré. “Se atingissem mais velocidade, não me admiraria que batessem os automóveis”, considera o piloto de Aveiro, que concluiu a etapa de sábado na nona posição.
O Can-Am dos irmãos Ré terminou após a Nissan Pick-Up Proto de Luís Dias e Pedro Cunha Rego. E estes foram oitavos, depois de terem oscilado entre o sétimo e o décimo lugares. Coube ao Kia Sportage de Nuno Madeira e Filipe Serra fechar os 10 primeiros. Assinale-se que, na fase final, Madeira ganhou bastante terreno aos irmãos Ré. Mas ainda ficou 35 segundos atrás deles.
O grupo seguinte abriu com o BMW 316 Proto de David Spranger e Nuno Batalha, que foram protagonistas da recuperação mais expressiva: desde o prólogo até ao final do primeiro sector selectivo, melhoraram uma dezenas de posições.
Em pouco mais de 20 quilómetros, o BMW de Spranger passou diante de nós praticamente colado ao Mitsubishi Pajero de Carlos Faustino e Rui Gomes. Aproveitaram a aproximação lenta a uma passagem a vau para ultrapassarem este adversário. Na manobra, o BMW patinou sobre a lama e chegou a encostar-se a um dos lados do Mitsubishi. Mas Spranger estava determinado em melhorar o seu resultado e não tirou pé do acelerador. Acabou a etapa em 11º, depois de ter ultrapassado mais alguns adversários, além de se ter adiantado a dez deles!
Duelo aceso pela liderança do grupo T8
Antes de terminar a etapa, o último concorrente que David Spranger conseguiu superar foi Francisco Barreto. O jovem piloto algarvio, na Baja T.T. Vindimas do Alentejo trocou de navegador, deixando Sérgio Cerveira de “folga”, para experimentar fazer uma corrida com Carlos Silva. Ainda Francisco não tinha nascido e já Carlos Silva participava em provas destas como navegador…
Começaram a prova na segunda posição do grupo T8, batidos pela Nissan D21 de Henrique e João Lourenço. Mas terminaram na liderança, colocando a Nissan Navara V6 assistida pela Prolama não só à frente, como ainda se adiantaram quase cinco minutos. Aliás, enquanto Francisco Barreto foi 12º em termos absolutos, Henrique Lourenço acabou a jornada no 14º lugar. A quebra de rendimento dos Lourenço, pai e filho, teve uma explicação: a meio da prova a alavanca da caixa de velocidades da Nissan cedeu e daí em diante tornou-se muito difícil prosseguir; entre os pilotos que travaram este aceso duelo pela liderança do grupo T8, colocou-se o Mercedes A 140 Proto de Jorge Cardoso e André Barras…
João Ferreira e David Monteiro na dianteira do grupo T2
Quanto ao grupo T2, reduzido nesta prova a apenas um par de equipas, a primazia nem sequer suscitou discussão. Assistiu-se ao domínio absoluto do Nissan Pathfinder de João Ferreira e David Monteiro! Procurando não esforçar desnecessariamente a mecânica, a dupla de Leiria acabou a etapa com quase 40 minutos de avanço. Os únicos adversários que encontraram em Beja são os também jovens João Franco e Pedro Inácio. Este intervalo traduz ainda cinco posições de diferença, em termos absolutos: o Pathfinder de Ferreira parte para a etapa final no 22º posto, cabendo à Nissan Pick-up de Franco o 27º e penúltimo lugar.
Adiante-se que Cesário Santos e Alexandre Gomes, que concorrem com uma Nissan Pick-Up D21, são os protagonistas da derradeira posição; para percorrer os 151,61 quilómetros do sector selectivo, só por um minuto não gastaram o dobro do tempo que Tiago Reis e Valter Cardoso demoraram no sector selectivo. Nem sequer podemos comparar um dos melhores carros de competição, desenvolvidos expressamente para todo terreno, com uma pick-up que além de bastante antiga, parece quase de série…
Texto: Alexandre Correia Fotos: Aifa/Rui Reis/Jorge Cunha/Albano Loureiro
18 comentários
Muito bom, “Tucha” o homem que andava sempre com uma navalha dentro do tablier 🙂
A alegria dos meus filhos mais velhos aquando da passagem dos UMM’s é indescritível! A felicidade deles a verem os gémeos Almeida a abrirem o prólogo foi contagiante… todos em redor deles acabaram a vibrar tanto quanto eles! Ler a vossa maravilhosa reportagem fez-m reviver esses momentos maravilhosos! Para o ano, lá estaremos novamente para apoiar o nosso Pedro Barroco e desejando apoiar novamente os UMM’s que possam participar (espetacular era repetirem o Desafio UMM!!!)!
Antes de mais Agradecer esta excelente reportagem, Grande Homenagem aos UMMs, Um Grande pedaço da história do Todo Terreno em Portugal, depois o que dizer da prova 5 á partida e 5 á chegada…. mais uma vez o meu Obrigado pela divulgação da Nossa UMM….
Fantastico! Adorei ver os UMMs e para o ano quero ver mais! Boa reportagem 👌
Excelente reportagem. Apesar de serem maquinas “Velhas” e já com muitos quilómetros de competição, ainda ficam à frente de jipes modernos e potentes.
É verdade o que o Pedro refere: os UMM ainda estão para durar! Muito obrigado pelo seu comentário!
Os UMMs são maquinas imortais, boa reportagem força tucha força gémeos!!
São mesmo “imortais” os UMM. E os pilotos, como Tucha e os gémeos Carlos e Rogério Almeida, são veteranos com uma ligação muito especial à marca!
Muitos parabéns pela reportagem, tive presente no evento e gostei muito de ver a valorização as grandes máquinas Nacionais “ UMMS “!
Continuem assim!
Abraço
Só quem, como o Pedro, assistiu à prova, pôde sentir essa emoção que foi ver um conjunto de vários UMM de novo a competir! E obrigado pela simpatia do comentário sobre a nossa reportagem!
Reportagem top! Mais uma vez os UMMs em destaque numa prova de todo o terreno, a provar que continuam super atuais e cada vez mais na moda. Obrigada pela reportagem espetacular.
Estes UMM são indestrutíveis! E a demonstração foi dada por esta participação na prova alentejana! Muito obrigado pelos seus comentários.
Excelente reportagem, muito esclarecedora de todos os pormenores que envolveram o prólogo e o 1º SS, Adorei o 1º artigo sobre a marca UMM com a merecida homenagem feita ao Tucha.
Caro Paulo, continue a seguir estas “aventuras” na Todo Terreno. E como as nossas reportagens exigem a ponderação que o imediatismo não permite, esta terça-feira encontrar aqui a história final da prova, em que também contamos como correu o segundo dia aos homens dos UMM…
Grande reportagem a englobar todos os participantes de todas as classes, incluindo da grande classe UMM, e também a reportarem a grande homenagem a um dos melhores pilotos de Todo-Terreno português da história, o Tucha.
André, muito obrigado pelas suas impressões! Não podíamos deixar de reportar este regresso de “Tucha”. Afinal, acompanhámos a carreira do piloto desde, rigorosamente, o primeiro momento, já lá vão…39 anos!
Excelente artigo que nos permite estar presentes e acompanhar passo a passo o desenrolar desta prova.
Caro Norberto, muito obrigado pelo seu comentário! Fomos sensíveis ao esforço que desenvolveu, com o Clube UMM, para realizar esta homenagem à marca portuguesa e ao próprio “Tucha”. O que tornou a iniciativa merecedora de abrir a nossa reportagem!