Cyril Despres e David Castera não tiveram de esperar pela chegada a Xian para festejar novo triunfo. A chuva antecipou o final do Silk Way Rally, pondo termo à competição, que só este sábado cumprirá os derradeiros quilómetros, até à antiga capital do Império do Meio.
Um ano depois, a dupla de ex-motards voltou a garantir uma bela vitória à Peugeot, agora com o 3008 DKR. Atrasados na fase inicial, pareciam destinados aos lugares secundários, mas foram os protagonistas da corrida, pelo desempenho mais equilibrado de toda a caravana!
Em treze etapas, os Peugeot oficiais foram os mais rápidos por dez vezes e o 3008 DKR de Cyril Despres apenas venceu uma etapa, contra cinco de Stéphane Peterhansel e quatro de Sébastien Loeb. Este liderava destacado quando embateu violentamente de frente num buraco que, literalmente, fez encolher o Peugeot 3008 DKR Maxi, o novo carro que a Peugeot está a desenvolver para o próximo “Dakar”, que fez no Silk Way a sua estreia. Este acidente obrigou Loeb a retirar-se após a nona etapa, deixando na frente Despres, que até aí secundava o piloto da Alsácia. Então já Stéphane Peterhansel rodava bastante atrasado, pois ao capotar aparatosamente na quarta etapa comprometeu as suas chances de discutir a primazia.
Atendendo à experiência dos três pilotos inscritos pela Peugeot na prova asiática, Despres era claramente o menos favorito. Mas já o era no ano passado e ganhou, quando beneficiou de um acidente com Peterhansel. Agora, a história repetiu-se e embora Peterhansel tenha sido o piloto que mais vezes ganhou uma etapa, foi o seu companheiro de equipa menos experiente quem ganhou. E com imenso mérito, pois teve um desempenho excelente, em termos de compromisso: salvo três etapas em que se atrasou na areia, posicionou-se sempre entre os mais rápidos e conseguiu igualmente limitar o prejuízo desses atrasos, para não pôr em causa a sua posição.
O Peugeot de Despres secundava o de Loeb desde a quarta etapa e ascendeu ao comando na nona jornada. E afinal não foi sequer necessário esperar que a prova chegasse a Xian para que saísse vitorioso. Provavelmente só com a decisão da organização em antecipar o final, Despres pôde descomprimir e aliviar o nervosismo que sentia. Estava em causa uma vitória muito importante para a Peugeot. E para a sua carreira, como piloto…
Três camiões no “top ten”
O equilíbrio do desempenho de Cyril Despres nesta prova torna-se ainda mais relevante se considerarmos o profundo desequilíbrio dos seus mais directos adversários. E se entre eles estavam também os seus companheiros de equipa, Loeb e Peterhansel, a verdade é que estavam igualmente os dois Mini John Cooper Works inscritos pelo Team X-Raid, para o norte-americano Bryce Menzies e para o saudita Yazeed Al-Rajhi. Este atrasou-se imenso logo de início, ao ficar atascado num lamaçal, ainda no percurso desenrolado na Rússia. E não mais recuperou, pois à chegada coube-lhe um modesto 14º lugar absoluto, numa classificação em que se incluem os camiões.
Pior ainda foi a corrida de Menzies, pois o piloto de Las Vegas chegou a ter o segundo lugar na mão, mas não o segurou. E nesta última etapa ainda se atrasou mais, num monumental atascanso, que o fez perder mais de duas horas e meia.
À chegada, Menzies limitou-se a conseguir o 12º lugar, quando à partida desta etapa final estava ainda em quinto. Na jornada anterior, o Mini do norte-americano já tinha ficado para trás devido a um grande atascanso. A frequência com que Menzies ficou retido na areia deixou bem claro que não domina este tipo de piso, que não costuma encontrar nas provas que disputa nos Estados Unidos da América. Mas não podemos dizer o mesmo de Yazeed Al-Rajhi, pois a areia é mesmo o forte do saudita, que embora viva rodeado de deserto, nem por isso conseguiu evidenciar-se nesta participação.
Destaque conseguiu Christian Lavieille, que in-extremis ascendeu ao segundo lugar, batendo com o seu buggy Baicmotor o Geely SMG do chinês Han Wei por uma diferença de cerca de sete minutos. Este foi, de resto, um intenso duelo, que se prolongou até ao último dia. Neste jornada, Han Wei não teve sorte, pois ficou com o seu buggy enterrado em areia e perdeu preciosos minutos, que o francês aproveitou…
Brilhante é o quarto posto absoluto do Kamaz de Dmitry Sotnikov, que se impôs determinante na categoria dos camiões. A Kamaz foi, aliás, a grande dominadora entre os pesados, obtendo os três primeiros lugares e posicionando os seus melhores pilotos no “top ten” absoluto. Além de Sotnikov em quarto, a marca russa registou o quinto posto de Anton Shibalov e o sétimo lugar de Airat Mardeev. Curiosamente, que ficou atrás de Mardeev foi Stéphane Peterhansel, que foi recuperando dia após dia, mas ainda assim precisava de ter melhorado mais de um quarto de hora para se adiantar ao piloto do camião. Adiante-se que Peterhansel foi o quinto melhor da classificação dos automóveis, um resultado muito abaixo do que perspectivava…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: D.R.