A última prova do campeonato saudita de todo terreno ficou marcada por um intenso duelo no deserto. Foi travado entre a Toyota Hilux de Yazeed Al-Rajhi e o Mini JCW Buggy de Carlos Sainz, que dia após dia alternaram na liderança. À chegada, Al-Rajhi venceu por pouco mais de um minuto de vantagem sobre o espanhol da Mini. Esta vitória, a segunda consecutiva para Al-Rajhi, permitiu-lhe tornar-se no primeiro campeão saudita de ralis no deserto! Sainz, pelo seu lado, justificou que não podia correr riscos de danificar o seu carro, com que em breve alinhará no renovado Rali Dakar. E entre 87 equipas presentes, houve de novo um português. agora foi Pedro Bianchi Prata, que alinhou como navegador de Conrad Rautenbach, piloto do Zimbabwé que chegou a liderar o grupo T3, num Can Am Zephir.
Preparar o “Dakar” e eleger o campeão saudita
A Baja de Sharqiya foi disputada num recanto do nordeste da Arábia Saudita, quase em frente às ilha do Bahrein e um pouco mais a norte do Qatar. Tratou-se da última das cinco provas do campeonato local, cuja primeira edição foi, precisamente, esta. E para isso não deixou de pesar o acordo com a A.S.O., para a realização do Rali Dakar através da Arábia Saudita, nos próximos anos.
Estava em aberto a discussão pelo título, com três candidatos a concorrer para se sagrarem no primeiro campeão saudita de todo terreno. Pela ordem inversa das possibilidades, a lista começava com Essa Al-Dossari, que corre numa Nissan Navara. Seguia-se Yasir Seaidan, que costuma utilizar um Mini All4Racing da X-Raid, mas que voltou a conduzir um dos Mini JCW Buggy oficiais. E por fim, Yazeed Al-Rajhi, com uma das Toyota Hilux preparadas pela equipa oficial, na África do Sul, e assistidas pelos belgas da Overdrive.
A perspectiva de conhecer um pouco dos cenários sauditas já tinha trazido alguns “outsiders” às provas anteriores; e também alguns estrangeiros marcaram presença na Baja de Sharqiya. Para todos eles, estas provas tornaram-se interessante para preparar a presença no próximo Rali Dakar. Sempre podiam conhecer o tipo de terrenos onde se espera que o Dakar vá passar. Isso levou, desta feita, a X-Raid, a inscrever Carlos Sainz e Lucas Cruz, num Mini John Cooper Works Buggy. Do Dubai veio Khalid Al-Qassimi, com um Peugeot 2008 DKR que pertenceu à equipa da marca francesa. E o checo Miroslav Zapletal repetiu a presença numa prova saudita, com a sua Ford F-150. Curiosamente, o motard português Pedro Bianchi Prata foi correr como navegador, a bordo do Can Am Zephyr de Conrad Rautenbach, do Zimbabwé.
Chuvas torrenciais deixaram o deserto enlameado
Dividido em três etapas, que não chegavam aos 480 quilómetros de sectores cronometrados, a prova acabou por disputar-se com apenas 374,7 quilómetros selectivos. Tudo porque na véspera da partida, intensas chuvadas que se abateram sobre a região, deixaram o deserto enlameado. Algumas partes do percurso tornaram-se impraticáveis e a organização, a cargo da própria federação local, viu-se obrigada a alterações de última hora.
Apenas a primeira etapa se manteve como prevista. O prólogo, de 6,34 quilómetros, disputado junto à aprazível Baia da Meia Lua, confirmou o favoritismo de Yazeed Al-Rajhi e Michael Orr. A dupla da Toyota adiantou-se 1,2 segundos ao Mini de Sainz e Lucas Cruz. O Peugeot 2008 DKR de Khalid Al-Qassimi foi terceiro, a 7,9 segundos, seguido pela Ford F-150 de Miroslav Zapletal. O Mini JCW Buggy de Yasir Seaidan não foi além de quinto…
Mas a segunda etapa teve de ser bastante revista. E o percurso “encolheu” cerca de 60 quilómetros, para 197,18, que Carlos Sainz percorreu mais depressa que todos os adversários. Inicialmente, Al-Rajhi foi apontado como vencedor da etapa, mas posteriormente verificou-se que o seu adversário espanhol da X-Raid não tinha ganho, como se adiantou.
Na verdade, Carlos Sainz assumiu o comando desta baja, mas por uma margem mínima: apenas três segundos, que na última etapa foram imediatamente recuperados pela Toyota de Al-Rajhi.
Vitória só ficou definida nos últimos quilómetros
O mais conhecido piloto saudita da actualidade percorreu os 171,25 quilómetros da etapa final (que foi também encurtada em 42 km) em apenas uma hora, oito minutos e 56 segundos. E se Yazeed Al-Rajhi estabeleceu uma média impressionante, Carlos Sainz ficou pouco atrás. O espanhol perdeu um minuto e 20 segundos na etapa, o que atesta o quanto foi vivido este duelo intenso no deserto!
Sem sorte, pois ao voar demasiado alto sobre uma pequena duna de areia, Yasir Seaidan destruiu o Mini JCW Buggy e não só ficou pelo caminho a meio da prova, como perdeu as chances de conquistar o título. Ganhou sim, seguramente, foi uma “conta calada”, para pagar à X-Raid os avultados danos causados. Porque o carro aterrou com a frente e capotou diversas vezes até se imobilizar. Foi precisamente para evitar uma situação destas e comprometer a participação no “Dakar” que Carlos Sainz não se deixou levar pelo entusiasmo do despique com Al-Rajhi…
Bianchi Prata começou por liderar o grupo T3
À chegada, se entre a Toyota de Al-Rajhi e o Mini JCW Buggy de Sainz a diferença final foi de somente 1m17s, já a vantagem conquistada pelo espanhol ao terceiro classificado, Al-Qassimi, foi bem superior: o Peugeot ficou a 8m54s. A Nissan Navara de Essa Al-Dossani conseguiu o quarto posto, frente à Ford F-150 de Zapletal, conseguindo sagrar-se vice-campeão saudita, depois de mais um duelo intenso no deserto saudita.
Líder do grupo T3 no prólogo, Pedro Bianchi Prata e o seu piloto africano conseguiram colocar o Can Am Zephir entre os dez mais rápidos. Mas depois baixaram para à segunda posição, por troca com o saudita Saleh Al-Saif, também num Can Am, que venceria a categoria, deixando o nosso compatriota a mais de uma hora!
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.