O segredo mais mal guardado do Rali Dakar é este: há que navegar e não atascar. É fácil dizê-lo, mas difícil conseguir uma coisa e outra, pois mesmo os pilotos e navegadores mais experientes perdem-se, tal como ficam atascados. Na segunda etapa, com 457 quilómetros cronometrados entre Bisha e Wadi Ad-Dawasir isso foi absolutamente determinante para o sucesso. E quem conseguiu sempre encontrar o rumo certo e ultrapassou os primeiros cordões sem ficar enterrado na areia foi Nasser Al-Attiyah. O piloto da Toyota venceu a etapa e recuperou sete posições, subindo ao terceiro posto absoluto. Na frente, a liderança mudou pela terceira vez, cabendo agora a Stéphane Peterhansel assumir o primeiro lugar. E entre os portugueses, registou-se o abandono do Mini navegado por Paulo Fiuza, mas salvo uma excepção, todos conseguiram recuperar algumas posições…
E se houve uma lema para ultrapassar com sucesso a segunda etapa do Rali Dakar 2021, só poderia ter sido “há que navegar e não atascar”. Porque só quem seguiu isto à letra não sofreu nos 457 quilómetros cronometrados desta tirada, que levou a caravana a entrar na imensa província de Riade. Entre os primeiros, mas também entre os mais atrasados, foram mais os que se enganaram no percurso e ficaram com as suas viaturas retidas nas primeiras dunas, que aqueles que passaram sem dificuldades.
Liderança apenas não mudou entre os camiões
E se dissermos que a liderança apenas não mudou entre os camiões, facilmente se entende que mesmo entre os favoritos houve ‘pesadas vítimas’ na abordagem aos primeiros longos cordões de dunas. E convém esclarecer que as passagens em areia foram apenas uma pequena parte do percurso. Mas suficiente para provocar os maiores atrasos. Ou, pela inversa, permitir rápidas recuperações, como foi o caso de Nasser Al-Attiyah: vencedor do prólogo, empatado com o sul-africano Brian Baragwanath (facto que a organização não evidenciou), o qatari desceu ao 10º posto na primeira etapa. Mas ao vencer a segunda tirada, pôde desde logo recuperar sete posições, mantendo-se bem próximo dos homens da frente.
Na liderança continua um Mini John Cooper Works Buggy, mas deu-se uma troca de pilotos: Carlos Sainz, que dispunha apenas de 5 segundos de vantagem, foi ultrapassado por Stéphane Peterhansel. E de uma assentada, Mr. Dakar ganhou mais de seis minutos e meio ao seu colega espanhol. Contudo, que não haja ilusões: estes são os resultados registados após a segunda das 12 etapas. E ainda há mais de 4000 quilómetros cronometrados para cumprir até que a caravana regresse ao ponto de partida, em Jeddah.
Entre os portugueses, recuperar posições foi a palavra de ordem nesta segunda etapa. Mas não só ninguém registou qualquer subida vertiginosa, como até se registou o primeiro abandono: o motor do Mini do lituano Vaidotas Zala, que alinhou tendo Paulo Fiuza como navegador, não resistiu ao esforço desta etapa…
Paulo Fiuza é o primeiro português a voltar a casa…
Já Benediktas Vanagas, o lituano que é acompanhado por Filipe Palmeiro, teve uma etapa mais positiva que a anterior. A Toyota Hilux desta dupla foi o 15º automóvel mais rápido a chegar a Wadi Ad-Dawasir, o que lhes proporcionou uma bela recuperação, ascendendo do 32º para o 24º posto. Por sua vez, Ricardo Porém e Jorge Monteiro, que não conseguiram melhor que o 42º posto na etapa, recuperaram apenas duas posições em termos absolutos.
A dupla de Leiria perdeu bem mais de meia hora para livrar o Borgward das areias. Sabiam que no ‘Dakar’ há que navegar e não atascar, mas somente conseguiram ter sucesso no primeiro destes aspectos: “O Jorge Monteiro fez um óptimo trabalho na navegação, mas encontrámos algumas passagens de areia muito mole e ficámos lá atascados imenso tempo”, contou-nos Ricardo Porém. “Ainda faltam 10 etapas e o mais importante foi termos chegado até aqui com a mecânica impecável. O Borgward ultrapassou estas duas jornadas sem o menor problema. E até temos tido sorte com os furos, pois sofremos um furo lento no final da primeira etapa, mas só percebemos isso já depois de concluído o troço”.
Terceira equipa lituano-portuguesa nos automóveis, Gintas Petrus e José Marques terminaram esta segunda etapa logo atrás do Borgward de Porém e Monteiro. O buggy de Petrus foi 44º nesta jornada, subindo para o 47º lugar absoluto; uma melhoria de três posições…
Lourenço Rosa e Joaquim Rodrigues foram os melhores
As duas formações que competem nos ‘Veículos Ligeiros’, os pequenos buggy’s dos grupos T3 e T4, tiveram de novo desempenhos bem distintos. E se, por um lado, Lourenço Rosa e Joaquim Dias estabeleceram o 12º melhor tempo, por outro, Rui Carneiro e Filipe Serra não foram além do 47º posto. Assim, Rosa pôde melhorar do 22º para o 16º lugar absoluto, enquanto Carneiro somente subiu quatro posições; era 53º…
Finalmente, dos três ‘motards’ portugueses apenas um não conseguiu recuperar posições na segunda etapa. Foi ele Alexandre Azinhais, que não conseguiu melhor que o 66º lugar na etapa, descendo para a mesma posição na classificação absoluta. Bem mais rápido foi Joaquim Rodrigues, que estabeleceu o 12º tempo com a sua Hero, subindo cinco posições, para se colocar em 17º. Rui Gonçalves, com uma Sherco, foi o 21º classificado nesta etapa, o que lhe permitiu ganhar um lugar, subindo ao 25º posto. Para a terceira etapa, avisamos já que a regra continuará a ser a mesma de hoje: há que navegar e não atascar!
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.