Era bom que isso significasse o retorno da mítica maratona às suas origens, entre a Europa e África, mas a prova continuará por longo tempo na América do Sul, conforme contou à revista Todo Terreno Xavier Gavory, o responsável pela relação entre a organização e os concorrentes, num descontraído almoço na vila da Sertã, antes de Portugal começar a arder.
No próximo ano o Rali Dakar vai celebrar 40 anos e para o celebrar, antes de mais prevê-se “uma corrida bastante competitiva”, segundo as palavras do responsável pela relação entre a organização e os concorrentes.
Xavier Gavory, francês, que se juntou à A.S.O. apenas em 2010, depois de largos anos a trabalhar para os ralis do extinto IRC – “graças a isso, fiquei um apaixonado da Madeira e dos Açores”, confessa – veio até nós para trocar impressões com os pilotos portugueses e procurar sensibilizar mais alguns a integrar a caravana. “Temos já diversos pilotos em moto assegurados, mas o potencial é elevado, pois sabemos que em Portugal o entusiasmo pelo todo terreno permanece muito forte e há aqui excelentes pilotos, que têm perfeitamente lugar no Rali Dakar”.
O nosso encontro teve lugar bem no centro de Portugal, no coração da região que por estes dias tem estado nas notícias de todo o mundo, devido ao trágico incêndio florestal que já custou a vida a mais de seis dezenas de pessoas.
A realização da Baja T.T. do Pinhal, que acompanhámos, resultou no momento perfeito para a Amaury Sport Organization marcar encontro com os pilotos portugueses e divulgar a próxima edição, procurando “estabelecer alguns contactos com quem esteja interessado em integrar a caravana”.
E há já diversas presenças garantidas, “nomeadamente ao nível dos motards”, revelou Gavory, adiantando que “na edição anterior registámos 11 presenças de motos portuguesas e há um interesse elevado pela prova de 2018”.
O plantel português será encabeçado pelos “motards” Hélder Oliveira, em Yamaha, Paulo Gonçalves, em Honda, e Mário Patrão, aos comandos de uma KTM que embora não esteja integrada na equipa principal, conta com o envolvimento directo da marca.
Tudo a postos para nova maratona
O arranque está previsto para a praça mais central de Lima, a capital peruana, na manhã do dia 6 de Janeiro de 2018. Ainda faltam cerca de seis meses, mas no essencial, “a corrida podia começar já amanhã, pois tudo está perfeitamente definido”, assegurou à revista Todo Terreno o homem encarregue das relações entre a organização da prova e os concorrentes.
Regressar ao Peru garante desde já um figurino mais de acordo com o que os pilotos encontravam em África: areia e mais areia! “Serão cinco dias com dunas, algumas impressionantes, logo a abrir a prova”, esclarece Xavier Gavory. De Lima a prova segue para Pisco, a vila costeira que dá nome à aguardente que é em si também um símbolo do Peru. A prova irá permanecer duas jornadas em Pisco, percorrendo intensamente as dunas desta área, antes de prosseguir rumo ao sul, atravessando o “deserto branco”, após o que se desvia da costa do Pacífico, para ir até Arequipa, já a subir gradualmente os Andes.
Depois, a caravana segue novamente para a Bolívia e terá a tradicional pausa de um dia em La Paz. “A Bolívia tem vindo a ganhar cada vez mais importância na prova”, diz o nosso interlocutor, explicando que “o entusiasmo é contagiante, começando logo pelo próprio Presidente, Evo Morales, e para os concorrentes o desafio é enorme, dadas as condições do terreno, difíceis e muito variadas, pois até o sal entra nos pisos, que cruzadas com a altitude muito elevada, criam condições extremas que exigem imenso dos concorrentes. Mais do que nunca, estar em boa forma física é determinante para que um piloto possa ambicionar ter sucesso no Rali Dakar”.
A fase final da 40ª edição será aquela que menos novidades apresenta, com etapas em Salta, Belém, passando pelas temíveis dunas de Fiambalá – onde à areia se soma uma dificuldade adicional: o calor! Chilecito, San Juan e, finalmente, a chegada na cidade de Córdoba, 700 quilómetros a norte de Buenos Aires.
Futuro aponta para norte
Com a próxima maratona definida, a organização pensa já nas seguintes. E o mais certo é que venhamos a ter grandes novidades. A maior de todas será mesmo uma mudança de rumo, invertendo a marcha para norte…
“Há apenas uma semana, o parlamento peruano aprovou uma medida a classificar o Rali Dakar como acontecimento de interesse público para o país, o que é um fantástico indicador da importância que está a rodear o retorno da prova a estas paragens e acreditamos que isso nos abrirá as portas ao norte do Peru”, revelou Xavier Gavory.
Segundo este responsável, “as nossas equipas de reconhecimentos, lideradas por Marc Coma, têm vindo desde há algum tempo a explorar novas vias mais a norte dos cenários que temos vindo a visitar. Se ao invés de seguirmos para sul, podermos atravessar o Peru rumo a norte, acedemos ao Equador e daqui até à Colômbia”.
Embora insista que “neste momento ainda não há certezas”, Gavory confessou-nos que para a organização, a ideia de levar a corrida “desde Lima até Cartagena das Índias tem vindo a ganhar cada vez mais expressão”.
O projecto de uma corrida “desde o Pacífico ao Mar das Caraíbas”, conforme as próprias palavras do nosso entrevistado, poderá avançar talvez já em 2019, “tanto mais que a Colômbia está a avançar com um sério processo de pacificação da guerrilha interna que, segundo nos fazem sentir as autoridades locais, poderão permitir que este país a breve prazo possa reunir as condições para que o Rali Dakar se estenda até lá”.
A troca de rumo, além da renovação de cenários, “que é sempre um factor bastante importante para captar o interesse dos concorrentes amadores, que normalmente só repetem uma vez”, oferece ainda outra vantagem não negligenciável: no início de Janeiro, as condições atmosféricas são mais favoráveis para norte, o que permitirá evitar as chuvadas que têm marcado as últimas edições, com prejuízo da competitividade da corrida, mercê das etapas que normalmente são anuladas.
Mas, para já, estas são ainda ideias que estão a ser negociadas nos bastidores. A realidade é o “Dakar Peru-Bolívia-Argentina” de 6 a 20 de Janeiro de 2018. Quem se inscreve?
Texto: Alexandre Correia
Fotos: João Martins/A2 Comunicação