Lá diz o ditado popular, que ‘não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe’. E dizemos isso mesmo sobre o passeio mais encantador do ano, o Portugal Norte Sul 2020. Foi bom enquanto durou. Muito bom até! Mas este domingo, mesmo tendo acordado soalheiro, no aprazível recanto algarvio em que o passeio se concluiu, vai ser um dia com alguma tristeza e nostalgia. Porque acabaram estas mini-férias que a acção do Clube Land Rover de Portugal proporcionou a que se aventurou nesta expedição desde Trás-os-Montes ao Algarve.
A organização reservou mesmo o melhor para o final. Aliás, todo o programa e percurso foram sendo vividos pela caravana num crescendo de agradabilidade. Cada dia foi melhor que o anterior, cada noite mais confortável que na véspera, cada jantar, mais saboroso. E terminou precisamente com um jantar. Que só não foi chamado banquete, porque as regras de hoje impõem restrições, incontornáveis, mas com força de lei. E a caravana jamais andou à margem da lei, como nos explicou Frederico Gomes, Presidente do Clube Land Rover de Portugal…
Novas regras tornaram o passeio ainda mais exclusivo
“Este ano, as novas regras tornaram o passeio ainda mais exclusivo. O protocolo de segurança sanitária que definimos, conforme estipulado pela DGS, obrigou-nos a deixar de fora cerca de metade dos inscritos”. As limitações das unidades hoteleiras foram um dos factores mais determinante para a redução dos participantes. “Durante o dia, a caravana andou sempre bastante dispersa, mas à noite, os jantares tiveram de obedecer ao distanciamento regulamentar, o que significa reduzir bastante a capacidade dos espaços. E, evidentemente, tornou-se impossível alargar o grupo!”
Até por isso, segundo a organização, tornou-se fundamental seleccionar uma unidade hoteleira particularmente bonita e confortável, que oferecesse um ambiente capaz de compensar a frieza do distanciamento. O Hotel Rural Quinta do Marco, perto de Santa Catarina da Fonte do Bispo, foi perfeito para acolher a chegada do ‘Portugal Norte Sul’. Inserido no meio de um grande jardim florido, ao crepúsculo, quando os participantes chegaram foram recebidos pelo perfume das flores, que pairava no ar. Isso despertou imediatamente a sensação de bem estar.
Ao jantar, nas mesas perdidas no grande salão, foi o desfilar de pratos que trouxe o conforto que faltava. Numa ementa servida em múltiplas etapas, bem mais do que as que o passeio fez percorrer, a ‘piece de resistance’ foi o prato de peixe: uma massada de peixe, onde generosos pedaços de peixe cozinhado no ponto correcto nadavam mergulhados num caldo cheio de sabor, completado pelos ‘cotovelos’ de massa cozida para absorver o molho sem se desfazer! E depois das sobremesas, a entrega dos troféus alusivos foi o momento de confirmar que todos se sentiam contentes. E já nostálgicos por saber que o passeio mais encantador estava terminado.
Alargar horizontes nas planícies alentejanas
O arranque da terceira etapa foi o mais tardio. Pela primeira vez, ninguém partiu antes do amanhecer. Mas os primeiros quilómetros foram cumpridos ‘às cegas’, com o Alentejo submerso num manto de nevoeiro que por vezes era penetrado pelos primeiros raios de sol e desenhava imagens lindas.
À medida que se foi avançando para sul, também esse nevoeiro foi-se dissipando, deixando a descoberto as planícies alentejanas, onde os espaços abertos permitem que os olhos alarguem o horizonte. Mas onde ainda há dois anos víamos searas, que em Abril cobriam a paisagem de verde, que em Maio ia gradualmente alourando ao sol, até chegarem a Junho completamente douradas, agora não vemos isso. Encontramos cada vez mais uma imensa mancha verde, compacta, que se estende por quilómetros e quilómetros.
No ‘Reino dos Olivais’ onde o verde é ‘mais intensivo’
Os olivais estão a conquistar terreno, um pouco por todo o País, mas muito em particular no Baixo Alentejo, que reune condições perfeitas para esta monocultura. Ainda abundam grandes espaços que permitem novas plantações. O clima é favorável e existe, graças aos planos de regadio permitidos pelo Alqueva, água para alimentar as oliveiras. E o mundo procura cada vez mais o azeite. Talvez nunca venhamos a ser o maior produtor do mundo, mas já devemos estar logo atrás.
E falando em posições, desta feita foi importante o lugar que cada carro ocupava na caravana. Chegados ao sul, demos as boas vindas ao calor. Ao calor que a meio do dia era mesmo sufocante, com o termómetro a indicar 30 graus centígrados. Temperaturas de Verão em pleno Outono. Daí que a caravana se foi sempre anunciando pela coluna de poeira que os Land Rover levantavam à sua passagem…
Desenhar o percurso no ar, com uma coluna de poeira
Com as temperaturas a subir, os caminhos voltaram a ficar bem secos. E poeirentos. O que fez a caravana reduzir o ritmo de andamento, sempre que os Land Rover rolavam em grupo. De outro modo, só o carro da frente teria oportunidade de admirar as paisagens…
Mas mesmo com esta atitude, os percursos mais rolantes, mais rápidos que anteriores, levaram a caravana a despedir-se rapidamente do Alentejo. E a partir do momento em que se entrou na serra do Algarve, o ritmo aumentou bastante mais, fazendo com que o percurso se adivinhasse ao longe. Era desenhado no céu pela coluna de poeira que os rodados levantavam.
À chegada, mais do que nunca, todos precisavam de um banho refrescante. E a traseira dos Land Rover mal deixava perceber os detalhes, escondidos por baixo de uma espessa crosta de poeira.
Já a pensar no futuro: o mais certo é programa alargar-se
Terminada a edição 2020 do ‘Portugal Norte Sul’, os responsáveis pelo Clube Land Rover de Portugal anunciaram de imediato algumas ideias para o próximo ano.
“Se todos aqueles que se inscreveram e não puderam participar, devido às limitações da caravana, mantiverem o interesse, já não nos sobram muitos lugares para o próximo ano”, assegura Frederico Gomes. Entre as ideias reveladas no momento da despedida, depois do ‘banquete’ na Quinta do Marco, registámos que este para tornar o passeio mais encantador, é provável que seja dividido por quatro etapas.
“Na verdade, não iremos aumentar o percurso, pelo contrário. Prevemos reduzir a distância de cada dia. E como pretendemos manter a ligação desde Trás-os-Montes ao Algarve, isso implicará acrescentar um dia ao programa”, disse-nos Frederico Gomes. A proposta, segundo conseguimos apurar, já terá recolhido o agrado da generalidade dos participantes. Entre os quais encontrámos muitos repetentes, que se despediram com um “vemo-nos no próximo ano!”
Texto e Fotos: Alexandre Correia/Todo Terreno
4 comentários
Um belo trecho do percurso, este do Baixo Alentejo e da Serra Algarvia. Tipo agridoce… , pachorrento e descontraído no inicio , vivaço e aguerrido no final!
E com magnifico local de paragem para o café da manhã!
Um final retemperador no esplêndido Hotel Rural Qta do Marco que incluiu , além de um magnifico jantar, uma piscina com água na temperatura ideal para retemperar energias depois de uns dias magníficos, mas cansativos ( como convém nestas lides ! ).
Bela reportagem e belas fotografias , mas com Land Rover como modelo , é sempre mais fácil…
Parabéns à equipa da organização e também a todos os participantes que se comportaram de maneira totalmente irrepreensível.
Caro João, foi mesmo uma bela experiência. O que custou foi voltar a casa…
É verdade o Defender 90 , mesmo sem alternador , cumpriu todo o percurso sem precisar de intervenção mecânica. Mas a escolta do amigo Arlindo com os seus elixires fresquinhos foi uma mais valia para limpar as gargantas da poeira do caminho. Obrigado Alex pela tua sempre boa companhia e respetiva reportagem.
A companhia do Arlindo, com o seu ‘stock’ de sobressalentes, é sempre uma mais-valia. E o Feliciano, é como o nome sugere, uma alegria!