Manhã cedo, num caminho florestal algures na zona da Sertã, um dos Land Rover da caravana do Passeio Portugal Norte Sul cruza-se com um automóvel cujo condutor, admirado, pergunta: Devem andar perdidos? António, o condutor do Defender 90, respondeu prontamente: “Não, vamos para Évora!…” E o mais incrível, contamos aqui, para sossegar o homem do Mercedes-Benz 190 que ficou de boca aberta, é que embora o caminho fosse longo e nada óbvio, chegaram mesmo a Évora. Foi ontem, na segunda etapa do maior passeio do Clube Land Rover de Portugal, que hoje vai a caminho do Algarve e do…ponto final.
Qualquer um ficaria admirado, se vivesse uma situação destas. Porque mesmo por asfalto, da Sertã a Évora a viagem seria um longo desfile por estradas e mais estradas. Ou seja, nem pelo asfalto o caminho seria directo. Agora, imagine isso por fora da estrada, através de trilhos, caminhos e estradões que para quase toda a gente são como que um labirinto: depois de lá entrarmos, nunca sabemos onde, nem quando sairemos de lá?
Aventureiro, e destemido, a passear de ‘190D’ no território TT
Aventureiro era aquele homem que perguntou: “Devem andar perdidos?” Um aventureiro destemido, que mesmo sem um Land Rover, próprio para todo terreno, arriscou ir de Mercedes-Benz 190 para os caminhos florestais da Sertã. Ali, claro, eram os seus domínios. Mas talvez ele não chegasse a Évora pelos mesmos caminhos?
De certeza que não chegava! O itinerário da segunda etapa do Passeio Portugal Norte Sul foi ligeiramente mais curto que na véspera. E estes 320 quilómetros desde Oleiros até Évora foram mais suaves, do ponto de vista de traçado em todo terreno. O Mercedes-Benz 190 teria passado praticamente por todo o lado. Mas não em todo o lado. Portanto, nem valia a pena ter ir, porque mesmo que não se perdesse no caminho, era certo que ficaria…pelo caminho!
A coragem de participar com um Series III 109 de 1981
José Carlos Alves é um corajoso. E determinado. Desistir parece-nos que não faz parte do seu vocabulário. Senão, vejamos: foi um dos primeiros a inscrever-se no Portugal Norte Sul e quarta-feira arrancou para Trás-os-Montes ao volante do Land Rover Series III 109 que comprou há 20 anos, Esta unidade, de três lugares, com cabina fechada, é de Janeiro de 1981. Foi um dos últimos Series III adquiridos para a Guarda Nacional Republicana. Ao serviço da ‘guarda’, percorreu durante 18 anos perto de três centenas de milhares de quilómetros. Depois, foi ‘abatido ao serviço’ e José Carlos descobriu-o à venda, em Coimbra.
“Era cinzento, como todos dos veículos da GNR nessa época e estava em condições de voltar à estrada”, ou melhor, a andar fora delas – como nos contou José Carlos Alves. “Desde então, além da pintura, para branco, não precisou de um aturado restauro e como o utilizo regularmente, quase dia sim, dia não, quase que me limito a fazer a manutenção regular”. Ou também a reparar prontamente as avarias que surgem, como a que lhe travou a viagem para Trás-os-Montes, quase a chegar ao ponto de encontro.
Um problema com a bomba de água fez esvaziar o radiador num instante. E não podia ter acontecido em pior lugar: numa extensa subida, em plena A24. “O motor começou logo a aquecer, pelo que encostei na berma”, contou-nos José Carlos Alves, que imediatamente notificou a organização. A resposta não demorou e era encorajadora: o mecânico que acompanha o passeio tudo faria para encontrar uma solução.
Lembrar a fábula da lebre e da tartaruga…
Como prometido é devido, o ‘109’ estava a trabalhar nas devidas condições a meio da manhã de quinta-feira. O percurso da primeira etapa estava irremediavelmente perdido, mas restavam outras duas. Assim, esta equipa desceu por estrada, passeando através da N2, desde Vila Pouca de Aguiar até Oleiros. E na sexta-feira, logo pela manhã, fizeram-se ao caminho. Chegámos juntos a Évora, eram 19h00 em ponto. Isso lembrou-nos a fábula da lebre e da tartaruga; fartámo-nos de correr, mas chegámos ao mesmo tempo.
“O Series III 109 não passa dos 70 quilómetros por hora, mas chega a todo o lado”. Disso não ficámos com a menor dúvida, ao contrário do condutor curioso, que achou que os participantes neste passeio “devem andar perdidos?” Ficámos sim, foi perdidos de riso quando António nos contou a história. Também tínhamos visto o Mercedes-Benz 190. Mas passámos por ele tão decididos que nem teve coragem de nos dizer nada. E sempre vos dizemos que neste sábado, nos vamos ‘perder’ a descer o resto deste Portugal encantador. Completaremos a travessia do Alentejo e do Algarve!
Texto e Fotos: Alexandre Correia/Todo Terreno
2 comentários
Este ano já estava duplamente comprometido ( COVID e as minhas férias marcadas para Novembro). Mas bastou-me esta história do 190 , para tomar a decisão… posso inscrever-me já para a próxima edição????
Caro Tarcísio, vamos passar este contacto para o Clube Land Rover de Portugal e tenho a certeza que não só ficarão contentes por isso, como posso garantir que para si será uma bela experiência. Realmente, a não perder. Belos percursos e, acima de tudo, excelente ambiente!