As más notícias correm depressa e hoje temos más notícias para partilhar: Diogo Amado, um dos veteranos da primeira participação portuguesa no Rali Paris-Alger-Dakar, em 1982, partiu esta madrugada para a sua última viagem.
Diogo Amado foi o último piloto designado para a equipa UMM, a que se juntou Pedro Villas-Boas, como navegador. Sempre bem disposto, Diogo alinhou “mais como motorista, que como piloto, pois o nosso papel era conduzirmos o carro que ia carregado com o material sobressalente para dar assistência aos UMM de José Megre e Pedro Cortez”, recordou-nos, na nossa última conversa, há cerca de um ano. “O Diogo não levou muito a sério a questão da corrida e logo na primeira etapa africana tirou-me o road-book da mão e disse que mais valia irmos atrás dos outros, até porque as instruções era nunca ultrapassarmos os dois carros de prova”, adiantou, por sua vez, Pedro Villas-Boas. Certo é que ao fim de três horas, “estávamos todos completamente perdidos, nós e aqueles que íamos a seguir. Então, eu sugeri ao Diogo voltarmos ao ponto de partida e recomeçarmos a etapa seguindo o road-book. Fizemos isso e começamos a prova nos últimos lugares, mas nas etapas seguintes, graças a uma boa navegação, demos connosco melhor classificados que o Megre e o Cortez” – violando o acordo da equipa. “O Megre era muito rígido nestas coisas e nem deu para discutir as instruções dele: enquanto estivéssemos à frente na classificação, mal arrancássemos para uma etapa, parávamos e ficávamos parados à espera que eles passassem, para cumprir com a regra de andarmos sempre atrás”. Isto resolveu-se por si quando, a dada altura, ainda antes da prova chegar a meio, um acidente de trânsito reteve Diogo Amado e Pedro Villas-Boas, que por momentos perderam o contacto com a caravana. E já na fase final, a dois dias da chegada a Dakar, Diogo Amado capotou aparatosamente, num acidente que o deixou com as duas pernas partidas. Se fosse hoje, teria sido imediatamente evacuado e era forçoso o abandono, mas em 1982 a organização era bastante permissiva e assim que os médicos diagnosticaram as lesões e prestaram os primeiros socorros, acederam ao pedido de Diogo Amado no sentido de prosseguir até Dakar.
À chegada, era Pedro Villas-Boas o piloto, enquanto Diogo Amado seguia no banco do navegador, com as duas pernas engessadas. Após o regresso a Lisboa, uma ambulância aguardava por Diogo Amado na placa do aeroporto, junto ao avião, para o levar de imediato para o Hospital da Cruz Vermelha, para onde seguiu acompanhado por João Tojal, o sétimo elemento da equipa, que não correu, mas fez a ligação entre os elementos da equipa e a administração da UMM, durante os três primeiros anos em que a marca esteve presente no Rali Paris-Alger-Dakar.
Ironia do destino: há apenas uma semana, num breve contacto com João Tojal, procuramos inteirarmo-nos do estado de saúde de Diogo Amado, pois ainda havia um encontro em suspenso, para marcarmos. Esta manhã, quando o telefone tocou e vimos que a chamada vinha de João Tojal, percebemos que era para marcar o último encontro com o Diogo: será na Basílica da Estrela, onde o seu corpo será velado a partir das 17h00.
Texto: Alexandre Correia Fotos: A.C./D.R.