A Baja Rússia ‘Northern Forest’ é sempre a primeira prova da Taça do Mundo FIA de Bajas. Para não fugir à regra, foi disputada nos primeiros dias de Fevereiro – de 5 a 7 – nas florestas do noroeste da Rússia. Trata-se da única das nove provas da ‘Taça do Mundo’ a decorrer sob as mais rigorosas condições invernais. Neve e gelo nunca faltam ao encontro. Este ano até houve um ‘reforço’: o segundo dos três dias decorreu debaixo de um forte nevão! No entanto, não foi isso que impediu Vladimir Vasilyev de dominar, com o seu BMW X3 CC. O piloto russo repetiu a vitória do ano passado e começa o ano em boas condições de repetir também o título mundial!
Em 18 edições, pilotos russos venceram por 14 vezes
Hoje é comum dar-se nomes às tempestades e a que assolou o território da República da Carélia durante a realização da Baja Rússia ‘Northern Forest’ bem que podia chamar-se Vasilyev. Normalmente cobertas de neve durante o Inverno, as florestas desta região, não muito longe de São Petersburgo, são o cenário da principal baja russa. O que faz dela uma competição especialmente difícil para a generalidade dos pilotos. Excepto os pilotos locais, para quem a expressão ‘correr em casa’ é sinónimo de alguma vantagem logo à partida.
Em 17 edições, somente por quatro vezes o vencedor não foi um piloto russo. E das quatro excepções, dois foram ‘quase russos’, se considerarmos que os finlandeses até 1917 ainda eram isso mesmo: russos! A primeira vez que a invencibilidade dos pilotos locais foi quebrada gerou uma enorme surpresa. Aconteceu na edição de 2014, quando o saudita Yazeed Al-Rajhi se impôs ao volante de uma Toyota Hilux Overdrive.
Considerado um especialista na condução em areia, Al-Rajhi desafiou os russos para um confronto improvável, que acabou com a sua vitória, surpreendente. No ano seguinte, a Baja Rússia seria de novo ganha por um estrangeiro, também com uma Toyota Hilux Overdrive: o finlandês Tapio Suominen venceu sem oposição mas, neste caso, sem surpresa. Tal como em 2018, quando Nasser Al-Attiyah participou nesta prova com uma Toyota Hilux Overdrive, logo à priori já era considerado o favorito. E no final, apenas confirmou esse estatuto com uma vitória rara.
A última vez que um estrangeiro se impôs na Baja Rússia foi em 2019. Esse sucesso teve como protagonista o finlandês Tapio Lauronen, que conduziu um Mitsubishi Pajero.
Vladimir Vasilyev tornou-se no ‘rei’ da Baja Rússia
Entre os 38 inscritos para a Baja Rússia 2021, o nome de Vladimir Vasilyev era o que mais se destacava, fazendo dele o favorito à vitória. Recém regressado do Rali Dakar, onde foi sexto absoluto com um Mini do Team X-Raid, Vasilyev foi em 2020 o vencedor da Taça do Mundo FIA de Bajas, título que começou, precisamente, pelo triunfo na Baja Rússia. E desta feita, de novo sem adversários ao mesmo nível, levou o ‘velho’ BMW X3 CC – um carro também construído pela X-Raid – a dominar.
Ganhar por 8m.29s. de avanço após 480 km cronometrados
Para conquistar a terceira vitória, em oito anos, Vladimir Vasilyev liderou desde o princípio ao final da Baja Rússia 2021. E dos dez sectores selectivos, repartidos por três etapas, apenas não foi o mais rápido em três deles. Precisamente na manhã do segundo dia, quando as condições atmosféricas se agravaram mais. Tinha caído um intenso nevão e o nevoeiro cobria as florestas quando a caravana arrancou. Como era o primeiro carro a passar, Vasilyev teve, literalmente, de abrir caminho entre a neve densa, onde não havia marcas nem pontos de referência. O piloto comentou que o seu BMW mais parecia uma escavadora a limpar a neve e isso reflectiu-se nos tempos.
Sem as mesmas dificuldades, pois já encontrou os rastros abertos pelo carro da frente, Andrey Novikov brilhou nos primeiros sectores da segunda etapa. O piloto do G-Force, um buggy de construção russa, foi vencendo um após outro os três sectores selectivos. Graças a isso, Novikov pôde reforçar a segunda posição que tinha conseguido na primeira etapa, que terminou a quatro minutos e cinco segundos do líder.
Mas enquanto na primeira etapa os concorrentes percorreram duas passagens por um troço de 93,4 quilómetros, na segunda jornada os seis sectores selectivos somaram somente 104 quilómetros. Com troços de extensão mais própria para um rali convencional que uma prova de todo terreno, com 16, 22 e 14 quilómetros de extensão, as diferenças nunca poderiam ser grandes. Daí que as três vitórias de Andrey Novikov não bastaram para alterar a classificação. E na segunda ronda pelos mesmos troços, Vasilyev já não encontrou as dificuldades da manhã e voltou a vencer todas as ‘especiais’. Tal como na última etapa, que repetiu por duas vezes os 93,4 quilómetros do primeiro dia, o BMW X3 CC do ‘campeão’ mundial de bajas somou mais dois triunfos.
Melhor estrangeiro na Baja Rússia foi apenas o nono
À chegada, depois de cumpridas três etapas e disputados 479,6 quilómetros em luta com o cronómetros, os dois primeiros estavam separados por oito minutos e 29 segundos. Esta diferença tornou indiscutível o terceiro triunfo absoluto de Vasilyev na Baja Rússia. Mas nem por isso envergonhou os irmãos Andrey e Vladimir Novirok, pois o seu G-Force concedeu cerca de 24 minutos ao terceiro classificado.
A última posição do pódio coube a um piloto que os portugueses conhecem bem, ou não seja um dos participantes regulares na Baja Portalegre 500 (tal como Vasilyev): falamos de Boris Gadasin, que era até agora o recordista de vitórias na Baja Rússia. Com o novo sucesso de Vasilyev, ambos passaram a contar com três vitórias. Mas enquanto Gadasin soma apenas mais dois lugares no pódio, contando já com o terceiro posto nesta edição, Vasilyev terminou seis vezes nos três primeiros lugares.
Para Boris Gadasin, a presença na Baja Rússia 2021 teve uma novidade: trocou o G-Force habitual, um carro igual ao de Novirok, por um buggy também construído pela marca russa, mas do grupo T3. Mais limitado que os carros que o antecederam, nomeadamente em termos de velocidade máxima, Gadasin limitou-se a cumprir com o que estava ao seu alcance; a terceira posição reflectiu uma progressão ao longo da prova, mas terminou bem consolidada, com mais de sete minutos de avanço sobre Evgenii Sukhovenko, num buggy GAZ do grupo T1.
Melhor estrangeiro, o francês Claude Fournier ganhou o grupo T4, mas o seu Can-Am Maverick X3 ficou uma hora, 10 minutos e 50 segundos do vencedor absoluto, cabendo-lhe o nono posto final.
A surpresa de Anastasia Nifontova e Ekaterina Zhadanova
Surpreendente foi o quinto posto final absoluto obtido pela melhor das diversas equipas femininas que alinharam à partida da Baja Rússia 2021. As protagonistas deste brilharete foram Anastasia Nifontova e Ekateerina Zhadanova. Piloto e navegadora têm um passado nas competições motorizadas muito ligado ao motociclismo, pois ambas correram em motocross, enduro e raids. Nifontova chegou mesmo a disputar uma das edições anteriores da Baja Rússia com uma Toyota Hilux Overdrive. Mas as duas agora associaram-se para correr a bordo de um Can-Am Maverick X3 do grupo T3 e nesta prova chegaram mesmo a registar terceiro lugares em sectores selectivos.
No final do primeiro dia de prova, o Can-Am de Anastasia e Ekaterina ocupava o nono posto absoluto. Após a segunda etapa já tinham ascendido ao quinto posto e no final confirmaram este resultado por apenas 59 segundos de vantagem. Por um triz não foram alcançadas pelo G-Force de Andrey Rudskoy…
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.