Ainda faltam sete meses para o Rali Dakar 2020. Mas a prova que inaugurará a nova fase do “Dakar”, começa a definir-se. E se relativamente ao percurso ainda não há mais dados para adiantar, hoje falamos de novas regras. David Castera, o novo director do “Dakar”, anunciou há dias, numa conferência em Buenos Aires, que teremos uma prova mais humana. E acima de tudo, pensada em não castigar os pilotos amadores: quem desistir, poderá de novo prosseguir no dia seguinte, integrado no “Dakar Experience”!
A ideia do “Dakar Experience” já foi ensaiada este ano. E os resultados demonstraram que merece um maior investimento nessa direcção. O objectivo é mesmo não penalizar os concorrentes amadores, que normalmente fazem esforços imensos para estarem presentes. E como muitas vezes esse sonho alimentado pelos amadores acaba por ser um pesadelo, a proposta da ASO reduz isso. Simplesmente, os abandonos prematuros passam a não implicar voltar mais cedo para casa. Desde que os concorrentes consigam repor as suas viaturas em condições de prosseguir, podem continuar…
Claro que uma vez registada a desistência, deixam de concorrer para a classificação do Rali Dakar. Mas passam a disputar o “Dakar Experience”, uma corrida entre todos os desistentes, que segue o mesmo percurso e permite que desfrutem da corrida. E que se perfila desde já como uma corrida paralela.
Como David Castera conta, “nunca me esqueço que os pilotos vêm ao Rali Dakar para enfrentar uma prova lendária. A dureza é uma realidade constante do desafio. Mas eles vêm também para desfrutar. E a aventura do Dakar resume-se a esse equilíbrio”, que as novas regras vão salvaguardar.
“Road-book” assinala a cor as dificuldades
Entregar o “road-book” somente nos momentos que antecedem a partida de cada etapa é uma das novas regras. Para o director da prova, “esperamos que isso irá contribuir para trazer de novo o equilíbrio ao Dakar”. A navegação sempre foi uma componente fundamental e o secretismo do percurso é, também, “uma referência”.
Desde sempre, o “road-book” era entregue na véspera, após o “briefing” depois da chegada da última etapa. O director da prova alertava os pilotos para os aspectos mais importantes a observar e cada um recolhia o seu “road-book”. E o que todos faziam? Bem, não era exactamente a mesma coisa. Uns folheavam o “road-book”, página a página, e assinalavam as zonas de perigo com canetas coloridas. Outros, confiavam o trabalho a uma equipa que, nos bastidores, cruzava a informação do “road-book” com a cartografia do percurso.
Basicamente, fazia-se o mesmo que nos primeiros anos do Raid Transportugal: a implementação do “road-book” na carta topográfica. Esse foi, em tempos, aliás, um desafio popular em raides e passeios T.T. em Portugal. Mas a regra era ir observando o terreno e à medida que se seguia as indicações do “road-book”, marcava-se o itinerário percorrido no mapa. Ganhava quem melhor conseguia assinalar o percurso sem “desvios”.
Como a partir de agora, ninguém vai poder “treinar” o “road-book”, receberá um exemplar já impresso a cores, para destacar as maiores dificuldades e zonas de perigo. E aumenta a curiosidade quanto aos resultados desta medida…
Combustível grátis e 15 minutos de descanso
Ainda entre as novidades, podemos acrescentar que as regras do Grupo T2 são alteradas no sentido de permitir que sejam mais competitivos. Ou seja, os veículos da categoria de Produção passam a poder ter uma preparação que reduza a diferença para os protótipos.
E a meio de cada etapa, também os concorrentes dos automóveis passam a dispor de uma paragem. Tal como já é regra há muito para as motos e quads. A diferença é que os automóveis não páram para reabastecer. Somente para as equipas poderem descansar um quarto de hora…
E num país onde o petróleo parece inesgotável, o combustível será oferecido a todas as equipas. Sempre vai aligeirar um pouco o orçamento daqueles que mais esforço fazem para participar…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: D.R.