A terceira prova da Taça do Mundo FIA de Ralis Todo Terreno elevou a competição ao mais alto nível. Foram seis jornadas invulgarmente intensas através das estepes e desertos. À partida para a última etapa, a vitória estava perfeitamente em aberto. No final, Nasser Al-Attiyah venceu o Rali do Cazaquistão após duelo escaldante. Entre a Toyota do qatari e o Mini Buggy do francês Stéphane Peterhansel a diferença não chegou a seis minutos…
Este foi, todavia, um duelo improvável. Porque ao atrasar-se bastante na primeira etapa, Peterhansel nunca pensou que terminaria o Rali do Cazaquistão a discutir a vitória. Mas na penúltima etapa registou-se uma inesperada reviravolta na classificação: todos os carros que estavam à frente conheceram problemas que os fizeram perder imenso tempo! Nasser-Al Attiyah liderava desde a segunda etapa e perdeu cerca de meia hora; e de repente, o buggy Mini John Cooper Works de Peterhansel colocou-se em segundo, a apenas cinco minutos e 36 segundos!
Yazeed Al Rajhi foi o primeiro líder
O Rali do Cazaquistão começou com um ataque forte de Yazeed Al Rajhi. Ao volante de uma das Toyota Hilux da Overdrive, o piloto saudita instalou-se no comando, adiantando-se a Nasser Al-Attiyah. Ao mesmo tempo que Stéphane Peterhansel perdia um punhado de minutos, depois de ter sofrido um furo. O buggy Mini John Cooper Works de Peterhansel rolava muito rápido quando furou; o “casal” apanhou um valente susto, mas conseguiram parar. Perderam foi, desde logo, o contacto com os carros da frente.
No segundo dia, porém, Yazeed Al Rajhi não conseguiu repetir a proeza e foi apenas o quinto mais rápido. O que implicou descer directamente do primeiro para o quinto posto; com um atraso de mais de oito minutos para o novo comandante: Al-Attiyah! O holandês Bernhard Ten Brinke, também numa Toyota Hilux subiu ao segundo lugar, adiantando-se ao Mini de Jakub Przygonski. Peterhansel conseguiu também melhor e colocou-se em quarto à chegada a Kenderli.
Situada no meio de ampla baía, à beira do mar Cáspio, Kenderli é uma estância balnear que ainda está a nascer. Fica cerca de duas centenas de quilómetros a sul de Aktau. E esta é a capital da região de Mangystau, no sudoeste do Cazaquistão. Os 2536,85 quilómetros desta prova, dos quais 1872,46 cronometrados, foram decorridos nesta região. E se Kenderli foi a base para as primeiras quatro etapas, as duas jornadas finais centraram-se em Aktau.
Praticamente desértica, esta região ocupa a península de Mangyshlak, rodeada pelo Mar Cáspio. Oferece cenários perfeitos para uma competição de todo terreno como o Rali do Cazaquistão, ganho o ano passado por Al Rajhi.
Ganhar mais etapas foi trunfo de Al Rajhi
Quem já chegou a Aktau arredado da discussão pela primazia foi Yazeed Al Rajhi. O vencedor do ano passado pagou caro o atrevimento na terceira etapa, onde capotou e perdeu quase uma hora e 20 minutos para o comandante. Valeu-lhe Miroslav Zapletal: o piloto checo que tanta vezes correu em Portugal parou de imediato e ajudou Al Rajhi a colocar a Toyota sobre rodas.
Ao arrancar para a quarta etapa, Yazeed Al Rajhi já não acreditava que podia anular o atraso sobre o líder, mas estava disposto a vender cara a derrota. E imprimiu um andamento tão forte que voltou a vencer uma etapa. Mas não só apenas ganhou cerca de oito minutos a Al Attiyah, como à chegada a Kenderli sofreu uma penalização de quatro horas.
A surpresa final de Bernhard Ten Brinke
A dois dias do final, era impensável que Yazeed Al Rajhi conseguisse recuperar posições. Mas já o mesmo não se poderá dizer da disposição do piloto saudita para continuar a andar a fundo. E viu-se isso na quinta etapa, onde foi o mais rápido de todos pela terceira vez. Ainda assim, não passou do sétimo lugar absoluto, imediatamente à frente do Can Am de Reinaldo Varela. O piloto brasileiro dominou por completo a categoria dos SSV, onde tem apostado muito forte!
A penúltima etapa ficou ainda marcada por problemas que alarmaram Nasser Al-Attiyah, além de terem afastado Bernhard Ten Brinke. E se o comandante perdeu mais de meia hora de uma assentada, o seu colega holandês, não terminou a etapa. Recordamos que Ten Brinke estava em terceiro a pouco mais de um minuto de Przygonski.
Final em Aktau, onde as ruas não têm nome
Segundo melhor na penúltima etapa, Stéphane Peterhansel conseguiu assim subir dois lugares na classificação, trocando o quarto pelo segundo posto. Além de arrancar para etapa final com mais de 31 minutos de vantagem sobre o Mini de Przygonski, Peterhansel viu-se a discutir a vitória.
À saída de Aktau, para a ronda final, entre as dunas da “Montanha Branca” e as águas cristalinas do Mar Cáspio, a diferença entre os primeiros era reduzida: apenas cinco minutos e 38 segundos. Não restavam nem 150 quilómetros cronometrados, o que, por um lado, deixava Al-Attiyah mais sossegado. Por outro, Peterhansel sabia que nada estaria decidido enquanto não chegassem ao derradeiro controlo.
E sabia muito bem, porque mesmo tendo parado para trocar um roda, depois de ter furado, o recordista de vitórias no “Dakar” ainda ganhou mais 17 segundos a Al-Attiyah. O piloto do Qatar também conheceu algumas dificuldades na areia dos quilómetros finais, mas não lhe faltou a sorte. A vitória de Nasser Al-Attiyah foi assegurada por cinco minutos e 21 segundos de vantagem!
O último a vencer uma etapa foi… Bernhard Ten Brinke. Muito embora tivesse sofrido uma penalização de seis horas, que o atirou para o fim da classificação, o holandês pôde prosseguir. E sem nada a perder, atacou ainda mais forte. À chegada a Aktau, a cidade onde as ruas não têm nome, mas apenas números, Ten Brinke tinha batido o buggy Mini de Peterhansel por um minuto e 39 segundos.
Três Toyota Hilux ganharam as seis etapas
Em seis etapas, contaram-se três pilotos a ganhar. Todos conduziram as Toyota Hilux. E todos conseguiram resultados bem distintos. Nasser Al-Attiyah venceu apenas a segunda e a terceira etapas, mas saiu vencedor absoluto. Foi, aliás, a segunda vitória em três provas da Taça do Mundo FIA de Ralis de Todo Terreno. O outro vencedor foi Stéphane Peterhansel, que saiu do Cazaquistão com o segundo lugar.
Voltando aos pilotos das Toyota Hilux que dominaram, etapa sobre etapa, o “campeão” foi o saudita Yazeed Al Rajhi. Somou três triunfos, na primeira, na quarta e na quinta etapas. Bernhard Ten Brinke completou este sucesso da Toyota, ao impôr na etapa final.
A Toyota venceu ainda na categoria T2, graças ao sucesso do qatari Mohammed Al-Meer. Na categoria T3, reservada aos buggys SSV, o sucesso foi conquistado pelo Can Am do brasileiro Reinaldo Varela, que assegurou ainda o oitavo posto absoluto.
Finalmente, nos camiões, a vitória coube à equipa oficial da Kamaz. Mas quem assegurou o resultado para a marca russa foi um dos seus pilotos “secundários”: Dmitry Stonikov, que saltou para a frente após o abandono do seu companheiro de equipa Eduard Nikolaev. Este, adiante-se, capotou aparatosamente logo na primeira etapa, onde o seu camião se despenhou numa ravina; felizmente que se consequências para o piloto e os seus companheiros…
A Taça do Mundo FIA de Ralis de Todo Terreno completa-se com o Rali de Marrocos, agendado para os dias 4 a 8 de Outubro. Logo veremos quem será o novo Campeão do Mundo…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: D.R.