Dania Akeel fez história ao tornar-se na primeira saudita a participar numa competição internacional de todo terreno. O que há muito pouco tempo era ainda inimaginável, hoje já é uma realidade e esta jovem não o podia ter assinalado melhor: saiu vencedora da categoria T3 na Baja Internacional Sharqiyah. Esta foi a terceira prova da Taça do Mundo FIA de Bajas, disputada no nordeste da Arábia Saudita. O triunfo absoluto coube também a um piloto saudita, Yasir Seaidan, ao volante de um Mini John Cooper Works Rally.
O sucesso de Dania Akeel, conquistado este sábado na Baja Internacional Sharqiyah, tornou ainda mais marcante a sua estreia ao volante de um Can-Am Maverick. Só em Junho de 2018 as mulheres foram autorizadas a conduzir na Arábia Saudita. E até Abril de 2013 nem sequer podiam andar de bicicleta. Mas parece que as coisas estão a mudar no imenso reino saudita. De tal modo que ao mesmo tempo que era anunciada a presença de Dania Akeel nesta prova, também era confirmada a participação de Reema Juffali no campeonato britânico de Fórmula 3. Com 29 anos, Juffali foi a primeira mulher saudita a obter uma licença desportiva, como piloto de competição! Logo a seguir, também Dania, hoje com 32 anos, conseguiu a licença emitida pela Federação Saudita de Desportos Motorizados; foi a primeira mulher a ter licença saudita para correr em motos.
A saudita Dania Akeel prepara-se para o ‘Dakar’ 2022
A presença de Dania Akeel na Baja internacional Sharqiyah insere-se num projecto que a levará a participar no próximo Rali Dakar. O mais curioso é que Dania obteve a sua primeira licença desportiva para correr em motos! Não obstante as leis o impedirem, Dania conduzia motos desde os oito anos; começou com uma motorizada de 50 cc, mas aos 13 anos já tinha uma moto de 150 cc. e aos 14 anos praticava motocross. Quando se mudou para o Reino Unido, para estudar, pôde tirar a carta de condução e passou a conduzir regularmente motos. Desde 2018 que compete em Superbikes, nos Emirados Árabes Unidos, aos comandos de uma Ducati
Mau tempo e inúmeros acidentes numa prova atribulada
Com uma lista de inscritos com 37 automóveis, dos quais somente 11 competiram de acordo com as regras da FIA, a Baja Internacional Sharqiyah contou ainda com a participação de um camião, de 21 motos e de 10 quads. Infelizmente, um dos pilotos dos quads encontrou a morte num acidente durante a prova, que foi atribulada por mais acidentes e incidentes.
Estreando-se no calendário da Taça do Mundo FIA de Bajas, a prova foi disputada no nordeste da Arábia Saudita. A base instalou-se em Dammam, cidade que nasceu na década de 1940 à beira do Golfo Pérsico. Foi nesta região que em 1938 se descobriram os maiores poços de petróleo que ainda hoje continuam a fazer da Arábia Saudita um dos principais produtores de ‘ouro negro’.
O percurso abriu com um prólogo de apenas 10 quilómetros, onde o Mini John Cooper Works Rally se destacou, ao vencer por 22 segundos de vantagem sobre a Ford F-150 do checo Miroslav Zapletal. A Toyota Hilux de Yazeed Al-Rajhi foi terceira, a 26 segundos do vencedor, colocando-se no quarto e quinto lugares os Can-Am T4 dos pilotos locais Saleh Al-Saif e Khalid Al-Ferahi. A segunda das Toyota inscritas pela Overdrive foi conduzida por Eric Van Loon. O holandês colocou-se em sexto no prólogo, onde o Can-Am de Dania Akeel foi último classificado. Para percorrer os 10 quilómetros, Dana Akeel e Laurent Kichtleuchter, o navegador francês que a acompanhou na prova, gastaram 10 minutos e três segundos…
Domínio absoluto do Mini JCW Rally de Yasir Seaidan
O mau tempo que se abateu sobre a área de Dammam, situada um pouco a norte da península do Qatar e quase em frente à ilha do Bahrein, obrigou à anulação da primeira etapa. Como não havia condições para os helicópteros voarem, seria impossível garantir a segurança dos concorrentes.
A caravana ficou um dia neutralizada, mas para que fosse cumprida a distância mínima de 350 quilómetros cronometrados, foi preciso ‘reforçar’ a segunda etapa. Assim, além dos 222,3 quilómetros previstos para a segunda etapa, a organização fez os concorrentes repetir os primeiros 138,5 quilómetros do troço. Neste caso, o colégio dos comissários desportivos, nomeado pela FIA, foi bem mais benevolente do que tinha sido em Portalegre, na prova final da última temporada…
Na segunda etapa, os helicópteros da organização foram bastante requisitados para evacuações sanitárias: foram vários os acidentes que obrigaram à intervenção dos meios de segurança. O mais grave foi o que ocorreu com Riyadh Al-Shammeri, piloto que competia em quad e que morreu em consequência de um despiste.
Estreia vitoriosa de Dania Akeel na categoria T3
Um dos acidentes que implicou a intervenção dos helicópteros de segurança teve como protagonistas Yazeed Al-Rajhi e o seu navegador, Michael Orr. A Toyota Hilux capotou ao descer uma duna bastante pronunciada, terminando de rodas no ar, quando estavam percorridos apenas os primeiros 85 quilómetros. Este abandono deixou Yasir Seaidan e Alexey Kuzmich livres de oposição, vencendo com 13 minutos e 38 segundos de avanço sobre a Ford F-150 de Miroslav Zapletal. Saleh Al-Saif, num Can-Am Maverick X3, completou o pódio e venceu a categoria T4.
Dificuldades com a navegação atrasaram Eric Van Loon, mas se o piloto holandês contava ter obtido o quarto posto, a verdade é que uma pesada penalização atirou-o para o sexto lugar. Quanto a Dania Akeel, concluiu a sua estreia ao volante de um Can-Am Maverick X3 com a vitória na categoria T3. Esta vitória foi devidamente festejada, especialmente por Jutta Kleinschmidt; a antiga piloto alemã, que hoje preside à Comissão Cross-Country da FIA, foi testemunha atenta desta prova, que estabeleceu um resultado inédito!
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.
4 comentários
Como sempre um bom texto a fazer-nos viajar até lá.
Caro Pedro, muito obrigado pela simpatia do comentário!
Excelente trabalho mais uma vez
Muito obrigado Victor! Neste caso, o assunto é tão invulgar que merecia chegar longe, em termos de leitura. Nunca uma mulher saudita tida experimentado subir ao pódio numa competição motorizada disputada na Arábia Saudita. E isso deve ser celebrado!