Quando ainda faltam cumprir os 514 quilómetros das duas etapas finais, nada está decidido no Abu Dhabi Desert Challenge: os portugueses João Ferreira e Filipe Palmeiro foram hoje os quartos melhores do grupo T3 e na frente Nasser Al-Attiyah e Mathieu Baumel venceram a terceira etapa consecutiva. Mas quase no final, o piloto do Qatar sofreu um acidente que deixou a Toyota Hilux seriamente danificada e embora Al-Attiyah lidere com quase meia hora de vantagem, não será autorizado a partir amanhã…
Quase no final do sector selectivo de hoje, a Toyota Hilux de Nasser Al-Attiyah e Mathieu Baumel voou demasiado alto e a ‘aterragem’ foi desastrosa, mas nem este acidente impediu os campeões do mundo de todo terreno de manterem o domínio que exercem desde o prólogo desta edição do Abu Dhabi Desert Challenge. Os homens da Toyota venceram por 48 segundos de avanço sobre o BRX de Sébastien Loeb e Fabien Lurquin, que os perseguiram desde início sem, contudo, conseguirem ultrapassá-los. E concluída a terceira etapa, Nasser Al-Attiyah conseguiu mesmo reforçar ligeiramente o avanço sobre a Toyota Hilux de Yazeed Al-Rajhi e Tomas Gottschalk. Nos 266 quilómetros deste sector selectivo, o piloto saudita foi apenas o quarto mais rápido e perdeu mais oito minutos e 44 segundos relativamente aos comandantes.
Já no ‘acampamento’, os inspectores técnicos da FIA fizeram um exame minucioso à Hilux de Al-Attiyah e verificaram que os estragos mais visíveis – saltou o pára-brisas, o tejadilho e a secção traseira da carroçaria… – estão longe de ser os mais relevantes, bem pelo contrário: o impacto deste acidente terá sido de tal modo violento que o ‘roll-bar’ ficou também muito afectado e embora tenha cumprido a sua função, de proteger os pilotos, de acordo com os elementos da Federação Internacional do Automóvel, não ficou em condições de poder prosseguir em prova. A menos, claro, que os técnicos da Toyota Gazoo Racing conseguissem um milagre e reconstruissem totalmente o carro até à próxima madrugada. Porque Al-Attiyah somente seria autorizado a permanecer em prova depois da sua Toyota ser sujeita a uma nova verificação técnica.
Mas após os técnicos da Toyota Gazoo Racing fazerem a sua inspecção, percebeu-se que só mesmo um milagre poderia permitir que o piloto continuasse em prova. E, na verdade, esta Hilux está, para já, irrecuperável, pelo que Nasser Al-Attiyah e Baumel regressam mais cedo a casa e averbam uma desistência, depois de terem ganho tudo o que havia para ganhar até esta fase da prova. Portanto, nada está decidido neste Abu Dhabi Desert Challenge 2023…
A desistência de Nasser Al-Attiyah reabriu a discussão pela vitória final, já que a Toyota de Yazeed Al-Rajhi leva apenas nove minutos e 41 segundos de avanço sobre a Ford Ranger do checo Martin Prokop, que é actualmente o terceiro classificado, a rigorosamente 29 minutos do comandante, pelo que também entre estes dois, nada está decidido.
Quanto a Sébastien Loeb, o segundo posto na etapa de hoje, repetindo o resultado da tirada anterior, confere-lhe mais alguns pontos extra para o campeonato, mas o atraso averbado na primeira etapa foi tal que mesmo que ganha todas as etapas que restam cumprir, somente melhorará a sua posição na classificação se alguns adversários ficarem pelo caminho; como aconteceu com Al-Attiyah, o que atenuará o ‘prejuízo’ de Loeb em termos de campeonato, pois o seu mais forte adversário também não pontuará senão pelos resultados nas etapas.
João Ferreira e Filipe Palmeiro melhoram
Determinados a melhorar estão João Ferreira e Filipe Palmeiro, depois do enorme atraso de ontem, quando perderam mais de três horas a trocar a transmissão traseira do Yamaha em pleno sector selectivo. Hoje, a dupla portuguesa cotou-se como a nona mais rápida no primeiro terço do percurso, mas depois desceram um pouco e acabaram no 14º posto absoluto, que representou ainda o quarto lugar no grupo T3.
“Hoje tivemos um dia de menos calor e a areia não estava tão difícil de percorrer, mas como partimos das últimas posições, infelizmente já encontramos o piso bastante revolvido e degradado, o que também condicionou o nosso andamento”, contou à revista Todo Terreno Filipe Palmeiro.
João Ferreira era o 11º mais rápido a meio da etapa, “mas depois sofremos um furo que nos fez perder mais algum tempo” e mesmo assim, repetiram o mesmo resultado que tinham obtido no prólogo, onde foram quartos do grupo T3 e 14ºs absolutos.
O atraso que Ferreira e Palmeiro levam, infelizmente já não lhes oferece grandes perspectivas de subirem na classificação: são também os 14ºs do grupo T3 e ocupam o 29º posto da classificação geral, com 19 minutos e oito segundos de atraso relativamente ao carro que os antecede. Daí que para os dois dias finais, João Ferreira sublinha que “ainda nada está decidido” e promete que “vamos continuar a impor um ritmo forte e seguro, para tentarmos ganhar o máximo de pontos possíveis para o campeonato”. Recordamos que após o Rali Dakar, Ferreira e Palmeiro eram os sextos classificados do ‘Mundial’!
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.