Após dois dias, restam três pilotos portugueses na caravana do Rali Dakar Perú /Bolívia/ Argentina 2018. À frente da nossa representação está o Duster conduzido por Carlos Sousa, que ocupa ainda um modesto 29º posto absoluto. Mas o nosso veterano sabe como ninguém que no Dakar a experiência é um trunfo. E o caminho até Córdoba ainda é longe e cheio de oportunidades para tudo. Nomeadamente para procurar ir subindo na classificação, que começou por ser liderada pela Toyota Hilux de Nasser Al-Attiyah, para na segunda etapa serem os Peugeot 3008 DKR a destacarem-se, tomando de assalto o comando.
Antes da partida, Bruno Famin, o director da Peugeot Sport, lamentava-se que as alterações ao regulamento do “Dakar” retiravam competitividade aos seus carros, dizendo-o com algum fatalismo. Como se necessitasse de deixar as culpas de um eventual insucesso a esta mudança, que supostamente veio retirar alguma da vantagem que até aqui os buggy’s gozaram. Vantagem que, aliás, foi determinante para que a marca francesa escolhesse este conceito de veículo, com tracção atrás e motor Diesel, quando decidiu regressar à grande maratona do “Dakar”.
Mas quando está prestes a iniciar-se a terceira jornada, são dois Peugeot 3008 DKR que surgem na liderança da prova, com Cyril Despres na dianteira de Stéphane Peterhansel por uma margem de somente 27 segundos. E ambos gozam de mais de cinco minutos de avanço sobre a Toyota Hilux de Ginniel De Villiers.
Único africano que alguma vez ganhou o Rali Dakar, Villiers persegue há dez anos uma nova vitória e embora no seio da Toyota o favoritismo seja sempre atribuído preferencialmente a Nasser Al-Attiyah, a verdade é que o árabe foi apenas rei por um dia. Liderou na curta etapa de abertura e este domingo desceu para quinto, a mais de uma dúzia de minutos do novo comandante. Contudo, tudo está ainda perfeitamente em aberto…
Esta ideia aplica-se igualmente aos portugueses. E muito em particular a Carlos Sousa. Depois de um início atribulado, pois penalizou 20 minutos por falhar um “way point”, além de ter perdido algum tempo adicional à procura de outro, Sousa começou imediatamente a recuperar: na segunda etapa ascendeu já ao 29º posto absoluto.
O grande objectivo de Carlos Sousa nesta prova é terminar nos dez primeiros. É um desafio que neste momento está ainda muito distante, pois o Renault Duster que partilha com o francês Pascal Maimon, que venceu o “Dakar” com o japonês Hiroshi Masuoka, quando ambos representavam a Mitsubishi, está 19 lugares atrás e leva quase uma hora e meia de atraso sobre o décimo classificado. Quem completa o “top ten” é o espanhol Juan “Nani” Roma, com um dos Mini do Team X-Raid, que assim confirma a repartição do favoritismo entre os Peugeot, com quatro carros posicionados entre os primeiros, dos Toyota e dos Mini, ambos com três viaturas neste conjunto.
Voltando aos portugueses, e concentrando-nos naqueles que continuam em prova, boa surpresa é o desempenho até aqui da dupla André Villas-Boas e Ruben Faria. O conhecido treinador de futebol e o motard fazem aqui uma dupla de estreantes absolutamente improvável. Villas-Boas, sobrinho de Pedro Villas-Boas, um dos pioneiros das participações nacionais no “Dakar”, nunca tinha conduzido um 4×4 em competição e escolheu logo uma das provas mais difíceis para o fazer. Por seu turno, Ruben Faria também nunca tinha participado como navegador. E o 45º lugar absoluto que ocupam, entre 62 equipas, pode considerar-se positivo.
André Villas-Boas conta não só com a experiência de Ruben Faria, acumulada ao longo de mais de uma década de participações no “Dakar”, como ainda vale-se de uma das viaturas mais competitivas: uma Toyota Hilux preparada na Bélgica pela Overdrive. E como o caminho para a chegada ainda é longo, tudo ainda está ao alcance desta dupla que não tem passado despercebida, tamanha que é a popularidade de André Villas-Boas, ou o futebol não seja o “desporto-rei” também nestas paragens sul-americanas.
Assinale-se que entre os portugueses que participam de automóvel ficou já pelo caminho o alentejano Filipe Palmeiro, que alinhou como navegador de Boris Garafulic, num dos Mini da X-Raid. Desistiu devido à colisão com o carro de um dos companheiros de equipa, o saudita Yazeed Al-Rajhi, num acidente caricato, que ninguém espera que aconteça em pleno deserto. Mas aconteceu.
Fora de prova, igualmente por acidente, ficou o UTV Yamaha de Pedro Mello Breyner e Pedro Velosa. E nas motos, depois do abandono de Joaquim Rodrigues logo ao início da primeira etapa, segue apenas em prova Fausto Mota, que ocupa um lugar a meio da tabela. O piloto nortenho é o 62º entre um total de 126!
Texto: Alexandre Correia
Fotos: Direitos Reservados