As opiniões têm de ser fundamentadas. E é isso que fazemos na revista Todo Terreno: quando emitimos opiniões, elas reflectem a nossa experiência vivida daquilo que comentamos. E, em particular, no que diz respeito aos modelos que ensaiamos. Por isso, depois de uma primeira experiência ao volante, não temos dúvidas: o novo Defender vale cada cêntimo do seu preço! É certo que custa uma fortuna; sobretudo para quem tinha por referência valores de há mais de duas décadas, quando estes veículos praticamente não pagavam impostos. Mas isso já lá vai, tal como o modelo antigo também já se tornou num clássico. O novo, ainda não é de colecção. É para desfrutar em pleno, pelos piores caminhos!
Foi um privilégio, porque tivemos esta unidade do Land Rover Defender P400 um dia inteiro à nossa disposição, para uma primeira experiência; e não apenas 3,5 horas, como foi proposto. Em meados de Março, íamos experimentar o novo Defender nos lamaçais de Eastnor Castle. Já tínhamos cartão de embarque para voar até Londres, quando a viagem foi cancelada. O maldito COVID-19 alterou por completo a forma dos construtores de automóveis apresentarem as suas novidades. E a solução, neste caso, foi uma conferência de imprensa através da internet.
Mas, como na acção de lançamento, estava previsto que nos dois dias do programa os jornalistas pudessem experimentar o novo Defender durante cerca de sete horas. Isso em diversas sessões de condução, com cada unidade partilhada por dois jornalistas. Daí que após a conferência ‘on-line’, a JaguarLandRover colocou em Portugal uma unidade do Defender 110, um P400, para que os jornalistas pudessem ter esse contacto ao volante. Respeitando as regras de distanciamento social, em vez de sete horas com equipas de dois condutores, foi feita uma escala de 17 períodos de três horas e meia: assim, cada jornalista podia dispor do modelo durante uma manhã, ou uma tarde.
Através das pistas do Ribatejo, por bons e maus caminhos
Escolhemos o último período, mas conseguimos estabelecer um acordo com a nossa colega Carla Ribeiro, jornalista do diário Público, que representa Portugal no WCOTY, o júri feminino que elege o Carro do Ano Internacional. E contando com a aprovação da JLR, não só juntámos os dois períodos de 3,5 horas, como acrescentámos as três horas de intervalo, pois dispensámos a paragem para desinfecção.
Assim, levámos o novo Defender 110 P400, com o motor de seis cilindros em linha, de três litros e 400 cv de potência, a descrever uma larga volta. Fomos até ao Ribatejo e entre as 10 e as 20 horas percorremos 309 quilómetros. Não foi uma grande distância, é certo, mas foi bastante interessante, como experiência. Porque conduzimos cerca de metade desta distância fora da estrada, percorrendo trilhos e caminhos, onde encontrámos as mais diversas situações.
Nas pistas muito rolantes dos arredores do Couço, chegámos a conduzir a velocidades comparáveis às de uma prova de todo terreno. E registámos desde logo as primeiras impressões positivas. Todos os sistemas de controlo da condução asseguram grande eficácia, mesmo a grande velocidade, sobre pisos de terra. Com a vantagem de garantirem, igualmente, uma segurança que somente convida a pisar com mais força no pedal do lado direito, sem receio…
Não há “maus pisos” para o novo Defender 110!
Quando nos orientámos por caminhos mais duros, num crescendo de dureza, a agradabilidade subiu para níveis impressionantes. É certo que já tínhamos longos milhares de quilómetros, bem para cima da centena de milhares, percorridos com os “velhos” 110. Não só porque tivemos dois destes modelos ao serviço da revista Todo Terreno, como usámos inúmeras vezes os 110 V8, em múltiplas expedições; sobretudo através dos países do sudoeste africano. O comportamento do antigo 110 nas ‘picadas’ africanas era uma óptima referência!
Mas o novo Defender 110 alterou, para melhor, muito melhor, essa referência. O que nos levou a concluir que o novo Defender vale cada cêntimo do seu preço, mesmo sabendo que a unidade que conduzimos custa mais de 100 mil euros. Usámos os mesmos caminhos, de mau piso, cheios de buracos e valas, onde há algum tempo experimentámos a pick-up Ford Range Raptor. E se esta tem uma suspensão Fox inspirada na competição, os cilindros pneumáticos do Defender P400 asseguraram um comportamento semelhante. De tal modo, que ficámos na dúvida se esses caminhos seriam mesmo maus?
Claro que são. Ou talvez não haja mesmo maus caminhos, mas apenas uns modelos melhores que outros? O ensaio do novo Defender 110 ainda vai prosseguir, muito em breve, com cinco dias inteiros para irmos ainda mais longe. E adiantamos que embora a temperatura exterior fosse de 41 graus, a bordo sentimos uma frescura deliciosa. Porque o conforto é outro dos novos atributos desta geração do Defender. E também isso contribui para justificar o preço final. E para quem anda esquecido dos valores, recordamos que em 2015, quando foram vendidas em Portugal as últimas unidades do 110, com 122 cv e ‘zero equipamento’, custavam 71 mil euros. Se pensarmos que esta geração do 110 está disponível a partir de cerca de 89 mil euros, afinal temos de reconhecer que, insistimos, o novo Defender vale cada cêntimo do seu preço!
Texto e Fotos: Alexandre Correia