As memórias são eternas. E Paulo Gonçalves já se tornou eterno, depois do último voo que fez levantar a sua moto sobre as areias do sudoeste da Arábia Saudita. Esta foto, captada hoje de manhã, é a última que, provavelmente foi registada com o piloto de Esposende ainda em prova; mostra o último voo, rumo à eternidade. A décima terceira participação de Paulo Gonçalves no Rali Dakar terminou ao quilómetro 276 da sétima etapa. O piloto não sobreviveu a uma queda violenta. Aos 40 anos, morreu feliz, a fazer o que mais gostava!
O veterano que conheceu todas as fases do “Dakar”
Conhecemo-lo em 2006, no Rali Euromilhões Lisboa-Dakar. Paulo Gonçalves era um dos jovens pilotos de moto que fazia a sua estreia na grande maratona, que então ainda era uma prova africana. Terminou em 25º, apesar dos meios reduzidos e da falta de experiência. A determinação era já então mais forte que as dificuldades e quem desde logo lhe anteviu uma carreira de sucesso nestas provas, não se enganou. Já como piloto oficial da Honda, em 2013 sagrou-se Campeão do Mundo de Ralis de Todo Terreno e em 2015 conseguiu mesmo terminar no segundo posto absoluto do “Dakar”.
“Corri duas vezes em África e onze na América do Sul”, recordava Paulo Gonçalves, a propósito das suas participações no “Dakar”. À partida desta edição, a 13ª em que alinhou, Gonçalves sublinhou que “é formidável fazer parte da história destes três capítulos do Dakar! Agora, na Arábia Saudita, será, com certeza, uma grande experiência!…” “Speedy Gonçalves, como se tornou conhecido neste meio, afirmava ainda “será também um novo capítulo para mim. Depois de cinco temporadas extraordinárias com a Honda, a minha carreira abre-se para um novo rumo”, ao passar a defender as cores da Hero Motorsport. “O Dakar será a terceira prova com esta equipa e parto muito entusiasmado”, referiu, antes de arrancar de Jeddah.
Paulo Gonçalves: o herói que nunca baixava os braços
Na terceira etapa, esteve à beira da desistência. Mas, uma vez mais, demonstrou a sua enorme determinação para vencer dificuldades: ao conseguir mudar o motor da Hero 450 Rally em plena pista, caiu para as últimas posições, mas evitou o abandono. E ao invés de lamentar-se, Paulo Gonçalves manteve o espírito positivo que sempre o caracterizou: “Nunca baixo os braços!” – salientou, prometendo que “daqui em diante o objectivo será fazer de cada etapa uma nova corrida”.
Logo na quarta tirada, onde foi o quarto piloto mais rápido nas motos, isso ficou bem claro. Na quinta etapa foi 10º e na sexta terminou em oitavo. Hoje ganhou a eternidade, quando sofreu uma queda, volvidos 276 quilómetros, a que não sobreviveu. Socorrido por uma equipa médica transportada de helicóptero oito minutos após o acidente, Paulo Gonçalves foi encontrado já sem vida. E todas as tentativas de reanimação não o trouxeram de volta…
Texto: Alexandre Correia Fotos: ASO/DPPI Media
1 comentário
Um exemplo de perserverança, ambição, fair-play, um lutador. Que descanse em paz. JLobão