Os veteranos do Rali Paris-Alger-Dakar de 1982 reuniram-se 40 anos depois, numa homenagem promovida pelo Clube UMM que reuniu os seis ‘sobreviventes’ da equipa original. José Megre, o grande dinamizador da estreia portuguesa no ‘Dakar’, que nos deixou há quase 13 anos, marcou presença na mesa de honra, simbolicamente representado por um retrato seu, mas também lembrado por todos os veteranos. Norberto Liberato, Presidente do Clube UMM, e Manuel Romão, navegador de Megre em 1982, foram os responsáveis por este encontro, no último sábado, que reuniu à mesa, em Cascais, a equipa original e largas dezenas de entusiastas…
O tempo passa depressa e parece que estes 40 anos, desde a estreia portuguesa no Rali Paris-Alger-Dakar, passaram num instante. O reencontro com os veteranos, neste almoço de homenagem organizado pelo Clube UMM, mostrou que o tempo já passou por todos nós mas, felizmente, não apagou as memórias de nenhum dos seis elementos presentes. E quanto à memória do único ausente, José Megre, que morreu a 26 de Março de 2009, essa é, de longe, a que está mais viva, ou não tenha ficado registada em alguns livros publicados pelo próprio, assim como em inúmeras entrevistas e depoimentos.
“Não podíamos deixar passar esta ocasião para prestar uma merecida homenagem aos pioneiros”, referiu Norberto Liberato. Para o dirigente do Clube UMM, este almoço, realizado em Cascais, ao mesmo tempo que em Jeddah se realizava a cerimónia de encerramento da 44ª edição do Rali Dakar, “foi uma oportunidade imperdível de voltar a reunir os elementos que levaram os primeiros UMM ao Rali Paris-Alger-Dakar”, repetindo um encontro de celebração realizado em Alverca quando se comemoraram os 30 anos desta participação. “Há 10 anos, esta efeméride foi o pretexto para celebrarmos a presença da UMM na competição e reunimos algumas dezenas de equipas que durante as suas carreiras desportivas competiram com os UMM. No entanto, desta vez entendemos que a homenagem devia ser totalmente dirigida aos veteranos e foi uma alegria termos podido voltar a contar com a presença dos seis que continuam entre nós”.
Manuel Romão recordou o quanto o marcou a dupla passagem por Gao, nos confins do deserto do Sahara, no Mali. À beira do rio Niger, “a cidade divide-se entre as duas margens e foi lá que a organização fez a paragem de 24 horas entre duas etapas, mas depois de retomarmos a prova, descrevemos uma ronda até Mopti e voltámos ali. Nunca mais esqueci Gao e ainda recordo cada momento ali vivido como se tivesse sido há dias!
Pedro Cortez, por sua vez, realçou que fez a prova toda “sem navegador, levando ao lado o único mecânico com que contávamos, que trabalhava pela noite dentro nos três carros e quando subia a bordo, para avançarmos mais uma etapa, rapidamente adormecida”. Joaquim Miranda recorda precisamente isso, admitindo que não chegou a “conhecer África, pois o cansaço era tanto que mesmo no desconforto da condução do UMM nas pistas de terra, raramente dava por alguma coisa que me fizesse abrir os olhos”.
Já Pedro Villas-Boas, o último elemento a ser convidado a integrar a equipa de 1982 e que em 1986 foi também o último piloto a conduzir oficialmente um UMM no Paris-Dakar, recordou como entrou para a equipa, mas também que logo na primeira etapa recebeu instruções do seu piloto, Diogo Amado, “para fechar o road-book e seguir os outros, pois não estávamos lá para ganhar nada e não valia a pena termos muito trabalho. Claro que ao fim de duas horas nós e esses ‘outros’ estávamos completamente perdidos e o Diogo lá percebeu a utilidade do road-book e da companhia de um navegador, quando regressámos ao ponto de partida e cumprimos o itinerário todo sem nos voltarmos a enganar!”
Sempre sorridente e bem disposto, Diogo Amado era o único funcionário da UMM/Mocar a bordo de um dos três Cournil 4×4. “Na altura, eu era responsável pelo controlo de qualidade, que tinha por missão aceitar as unidades que a fábrica entregava à Mocar, o distribuidor da marca em Portugal”. Foi isso que lhe valeu, também à última da hora, um lugar na formação da UMM ao Paris-Alger-Dakar de 1982, de onde regressou “deitado numa maca e directo para o hospital, com as duas pernas engessadas, depois de ter capotado quase no final da prova”. Hoje, Diogo Amado teria sido imediatamente evacuado, “mas naquela altura o espírito de sacrifício ainda era tido em conta e como depois dos primeiros tratamentos eu senti que aguentava ir até Dakar, a organização não me impediu e o Pedro Villas-Boas acabou o rali sentado ao volante, conduzindo e navegando”.
Ninguém viveu tudo isto mais de perto que João Tojal, que ainda hoje recorda ter sido o “décimo terceiro funcionário da UMM”. Coube-lhe acompanhar a prova num avião da organização, que o levava de etapa em etapa, directamente aos acampamentos. “Como chegava a meio da manhã, muitas horas antes dos pilotos, dispunha de tempo para contactar Lisboa e relatar o que se estava a passar aos responsáveis pela UMM, os irmãos Manuel e João Baptista da Silva, sem os quais nada disto tinha acontecido!” João Tojal é o menos conhecido dos sete veteranos, mas o seu papel foi bastante importante no apoio aos participantes. “Por exemplo, foi ele que se encarregou de nos encontrar alojamento em Gao, para que pudéssemos ter descansado com mais conforto durante a passagem nesta cidade”, recordou ainda Manuel Romão, que ao despedir-se de todos os presentes neste almoço não deixou de prometer que “dentro de 10 anos, mesmo que já andemos todos de bengala, teremos de celebrar o meio século desta aventura”, que mudou a vida a muitos dos presentes!
Texto e foto: Alexandre Correia/Todo Terreno
8 comentários
Mais um evento bem sucedido por parte do clube Umm na pessoa do Norberto Liberato que tudo faz para continuar a homenagear a marca bem como todos os intervenientes envolvidos neste belo projeto nacional que sempre fez boa figura a nível internacional e que tanto nos faz orgulhar.
Um muito obrigado à revista Todo Terreno pelo excelente artigo sobre esta homenagem dedicada aos intervenientes no Dakar de 1982.
O espírito Umm continua bem vivo e que assim se mantenha por mutos anos!
Paulo,
Nuno é por demais reconhecer quer a importância da participação destes veteranos no Paris-Dakar de 1982, sobretudo por terem conseguido resistir até ao final, nem tão pouco o entusiasmo do Clube UMM em manter viva esta memória. E não podemos deixar de reconhecer igualmente que muito desse entusiasmo se deve a Norberto Liberato! Como o Paulo diz, o espírito UMM continua bem vivo e assim se mantenha por muitos anos!
Obrigado à TodoTerreno por mais um exelente artigo. E obrigado também ao amigo Norberto por assinalar nais uma data com esta homenagem… G .Abraço
Caro Ricardo, muito obrigado pelas suas palavras. A UMM faz parte das nossas vidas, ou não tenha sido graças ao sucesso desta participação no Paris-Dakar, há 40 anos, que as actividades de todo terreno se desenvolveram em Portugal. E também para esse desenvolvimento, foi determinante o contributo da UMM.
O entusiasmo que a UMM depositou neste projecto e o espírito de aventura e determinação destes sete elementos conjugaram-se perfeitamente para que a estreia portuguesa no ‘Dakar’ fosse o sucesso que todos conhecemos.
É verdade Norberto, mas passados estes 40 anos somos testemunhas de que essa memória prevalece muito em parte pelo empenho do Clube UMM e, em particular, pelo seu empenho pessoal. Um forte abraço e que essa paixão pela UMM nunca desvanceça.
Era giro ver, num futuro próximo, um ou mais UMM no Dakar clássicos.
Vale a pena pensar nisso…
Caro Mário, acredite que a ideia foi pensada e ao mais alto nível: 40 anos depois, um dos veteranos considerou regressar, de novo como navegador, mas levando um UMM que correu com ele no Rali Dakar. Se essa presença se tivesse concretizado, teria sido única!