Quando viajar nos está no sangue, não conseguimos parar!… E não vale a pena tentar contrariar isso. Foi o que percebemos ao passar umas horas com Vasco Callixto; aos 94 anos ainda continua a animar-se com a perspectiva de novas viagens. Em breve vai voar até aos Açores. Vai apresentar na Biblioteca Municipal da Horta, o seu mais recente livro de viagens. É o 60º que Callixto publica. E o primeiro que conta uma viagem em que não conduziu. Porque desde 1952 que sempre viajou ao volante, sem conhecer limites!…
As conversas com viajantes são, muitas vezes, como as dos pescadores, caçadores e outros mentirosos! Que nos perdoem os pescadores e os caçadores, que dos mentirosos não temos piedade. Estes são mesmo os que mais nos irritam; sobretudo quando insultam a nossa inteligência, ao procurarem convencer-nos que fariam de Indiana Jones um aprendiz de aventureiro.
Quando eu nasci, já Vasco Callixto estava cansado de viajar pelo mundo fora. Cresci a tropeçar nos seus livros de viagens. Porque, como contou ao jornalista Jorge Alves Barata, cada viagem resultou num livro. Esta conversa, que tive o prazer de testemunhar, foi uma longa entrevista que em breve publicaremos.
O maior prazer foi descobrir a simplicidade de Vasco Callixto. E a sua enorme autenticidade. Escolhemos para ponto de encontro a sede da Associação Naval de Lisboa. Na Doca de Belém, frente ao Padrão dos Descobrimentos, pareceu-nos bem simbólico para um encontro de viajantes. Sim, porque éramos três à mesa e entre todos sobrava pouco mundo por desvendar.
Uma vida longa sempre a viajar de automóvel
Vasco Callixto chegou sozinho, ao volante do seu Opel Corsa, que ainda conduz habitualmente. Já marca mais de 300 milhares de quilómetros, boa parte em viagens pela Europa, “a recordar algumas das que fiz noutros tempos”.
E durante umas boas quatro horas, a conversa nunca se desviou do motivo deste encontro: as viagens deste homem que, “movido pela curiosidade”, nunca deixou de ir mais além do que estava a ver. E viajou sempre em família. Primeiro apenas com a sua mulher. Depois com os dois filhos. E quando estes cresceram e passaram a ter vida própria, continuou a desbravar estradas com a sua companheira de sempre.
Ouvi-lo falar das suas viagens é entrarmos na sua vida. Começou por descobrir Portugal e só depois se aventurou além fronteira. Ainda não parou de viajar. Quando parar, será mau sinal! Porque como ele mesmo concorda, quando viajar nos está no sangue, não conseguimos parar!…
O que nos surpreende ao conversar com Vasco Callixto, é a simplicidade com que fala de tudo. Mesmo nos tempos em que as estradas eram geralmente más, as comunicações precárias e apenas os mapas a única orientação, “nunca senti dificuldades”. É o que nos diz, relativizando tudo o que enfrentou para chegar sempre ao destino. Guarda fortes memórias, que ainda o emocionam. Partilhou algumas connosco. Vale a pena esperar por esta entrevista, para ler nas páginas da revista Todo Terreno!
Texto: Alexandre Correia
Fotos: Jorge Alves Barata e Vasco Callixto