Estamos de regresso ao Peru para mais uma grande expedição da revista Todo Terreno. Em quase um mês, iremos percorrer cerca de seis milhares de quilómetros em Mitsubishi L200 4×4 através de ambientes tão diversos quanto o deserto branco, frente ao oceano Pacífico, e a ‘sierra’ e o Altiplano, como chamam à cordilheira dos Andes e ao planalto acima das montanhas. E vamos ainda mais longe, descendo à Amazónia por uma pista que se recorta entre a selva. A aventura já começou!
Em linha recta, a distância entre as capitais portuguesa e peruana é de pouco mais de nove milhares de quilómetros, que hoje se vencem numa dúzia e meia de horas de sucessivos voos. Se somarmos as etapas que temos pela frente à distância já percorrida recentemente, enquanto andámos a verificar todo o itinerário e programa desta grande expedição, o resultado seria semelhante à quilometragem que separa Lisboa de Lima. E nestas paragens sul-americanas, o Verão está quase a começar, ou não estivéssemos no hemisfério sul. Mas se, por um lado, as temperaturas médias se tornam mais amenas, sem muito calor junto à costa, nem muito frio nas altitudes elevadas a que subimos, nos Andes, por outro lado, esta é também a época das chuvas. E entre um percurso poeirento, ou lamacento, os desafios que se colocam não são os mesmos. E a aventura pode mesmo subir de nível, mas uma coisa é certa: vai ser uma grande expedição!
Rumo ao sul, entre o Pacífico e o deserto
A viagem arrancou depois de alguns dias vividos em Lima a descansar da longa viagem e a assimilar minimamente as cinco horas de diferença horária para Portugal, onde quando for meio-dia em Lima já serão cinco da tarde em Lisboa. O trânsito quase permanente e intenso da capital do Peru já não era surpresa, pois vivemo-lo nas deslocações quotidianas, enquanto andámos a passear para conhecer o que Lima oferece de mais encantador, desde o seu centro histórico, classificado pela Unesco como Património da Humanidade, onde se sucedem edifícios monumentais, aos bairros mais modernos, como Miraflores – que se estende ao longo da costa do Pacífico, espreitando praias que desde a madrugada até ao cair do dia são diariamente ‘invadidas’ por surfistas – e San Isidro, onde se situa o coração financeiro do país, com largas avenidas entre edifícios que rasgam o céu e nos obrigam a torcer o pescoço para conseguirmos olhar até ao topo.
Mas uma coisa é andar por Lima com motorista e outra é experimentar passar para o volante e enfrentar a ferocidade ágil do trânsito. A experiência exigiu apenas um cuidado ainda maior e uma atenção redobrada, mas não mais do que isso. É certo que o tráfego urbano ganha no Peru uma intensidade que nos faz considerar que as grandes cidades portuguesas, de Lisboa ao Porto, têm apenas trânsito suave nas horas de maior circulação. Já na estrada, realça-se imediatamente que ninguém conduz depressa, ou seja, acima dos limites, que oscilam entre um máximo de 100 e 80 km/h, conforme se tratem de vias rápidas ou meras estradas nacionais. Claro que isso leva a que se formem frequentemente longas filas e quando encontramos vários camiões seguidos, ultrapassá-los torna-se obrigatório para não tornar essas filas intermináveis. Nesta primeira jornada da nossa grande Expedição Todo Terreno no Peru, isso não constituiu uma dificuldade e os quase 250 quilómetros iniciais foram apenas como que um treino para entender a realidade do trânsito nas estradas peruanas.
Para começar esta grande expedição, tivemos uma etapa simples, que levou as Mitsubishi L200 4×4 a sair de Lima rumo ao sul, através da famosa Panamericana, a estrada que desce todo o continente americano, de ponta a ponta, desde o extremo norte, no Alasca, ao extremo sul, na Terra do Fogo. Não foram mais de duas centenas e meia de quilómetros, sempre por estrada, a descobrir as primeiras grandes dunas que os concorrentes do Rali Dakar já percorreram nas últimas edições sul-americanas da grande maratona, que deixaram na memória imagens fantásticas. E olhando para a direita, ao longo do caminho, fomos contemplando o oceano Pacífico, que nem sempre se parece com o que o seu nome indica, pois rebenta furioso contra a costa, num vai-vem de ondas que deixam atrás de si um rasto de espuma branca e se fazem ouvir mesmo ao longe.
Conduzimos até Pisco, cidade que acolheu o final de algumas etapas do Rali Dakar, mas que é conhecida não por isso, mas por dar nome a uma aguardente vinícola que é a base essencial de um cocktail que se tornou num dos mais fortes ‘embaixadores’ do Peru: o Pisco Sour, que adiciona esta aguardente a um xarope de açúcar, sumo de lima e a clara de um ovo, que depois de bem batido com gelo dentro de um ‘shaker’, emulsiona todos os componentes e cria uma sua espuma que depois de servido vem ao de cima do copo e que ninguém resiste a não beber até à última gota. Claro que terminámos a jornada em Pisco, frente ao mar, com um brinde entre tragos de Pisco Sour enquanto víamos o sol a mergulhar nas águas do Pacífico.
Texto e fotos: Alexandre Correia
4 comentários
Foi uma viagem inesquecível (como é normal nas viagens que temos efetuado com a revista TODO TERRENO).
A paisagem que passa do verde da vegetação amazónica para o bege das dunas junto ao Pacífico. Os planaltos e as montanhas, o casario que trepa colina acima em Cuzco e se confunde com a cor ocre da paisagem, as alpacas que se deixam afagar com o seu ar simpático e nos fazem desejar trazer uma para casa.
A chuva na floresta amazónica e a sinfonia noturna dos animais, a experiência de dormir num quarto sem parede proporcionando-nos a imersão na floresta.
A “estrada da morte” mas que é rodeada de vida e nos levou até à floresta, tudo ficou na lembrança.
Com toda esta diversidade de paisagens, de sons , de cheiros , de paladares e experiências, juntamos a simpatia do Alexandre Correia e um grupo de aventureiros unido e coeso que torna a experiência ainda mais inesquecível.
Por todos estes momentos o nosso obrigado e, aguardamos a próxima aventura!
Rosa Maria, estas linhas resumem, na verdade, o essencial desta expedição que vivemos em conjunto, mas que os leitores da revista Todo Terreno ainda vão descobrir, por aqui, nos próximos dias, mas sobretudo na próxima edição, que não tarda estará a ser impressa. Foi uma viagem fantástica, mas a próxima promete sê-lo ainda mais. E acabados de regressar desta longa temporada no Peru, já trabalhamos nisso. Em breve terá novidades nossas! Grande abraço
Pisco a tomar uma sheila com los patas e agora ?
Bolivia uyuni atacama é de outro mundo
Caro Hélio, o nosso programa vai a outros lugares que também são do outro mundo. Por exemplo, vamos descer à Amazonia por uma das temíveis “estradas da morte”.