Serão cerca de 6500 quilómetros, dos quais mais de quatro mil disputados em sectores selectivos. Algumas das 12 etapas não terão sequer ligações entre a partida e a chegada; todo o percurso será cumprido em contra-relógio. Falamos da prova que mantém viva a herança de Thierry Sabine: ligar a Europa à capital do Senegal com uma maratona através do Sahara. O Africa Eco Race está prestes a arrancar do Mónaco e este ano vão duas equipas portuguesas na caravana. Fernando e Nuno Barreiros alinham com uma Isuzu D-Max do grupo T2 e João Rôlo regressa de novo aos comandos de uma moto!
Terminar e, mais do que isso, classificados, é o objectivo comum às equipas portuguesas que tomam parte na prova dirigida por René Metge. Este veterano foi vencedor do Rali Paris-Dakar por um par de vezes. E mais do que isso: foi o homem escolhido por Gilbert Sabine, pai de Thierry, para lhe suceder na liderança do Rali Dakar, após a morte do seu criador, em 1986. Falecido no último dia de 2019, aos 97 anos, Gilbert Sabine teria, com certeza, gostado de estar presente na festa de partida do Africa Eco Race. Certamente que a entenderia como uma homenagem a Thierry Sabine. Até porque René Metge, numa longa entrevista que concedeu à revista Todo Terreno, em Lisboa, assim o considera…
“Haverá sempre um caminho até às praias de Dakar!”
“Quando dizemos que o Africa Eco Race é o genuíno herdeiro da prova criada por Thierry Sabine, não o dizemos apenas por o espírito do seu criador prevalece. Além disso, mantemos a rota, sensivelmente, das últimas edições da prova que decorreram em África. Com as mesmas dificuldades, os mesmos desafios, o mesmo objectivo comum a todos os que nela tomam parte: chegar ao Lago Rosa, duas semanas após terem partido!” René Metge não podia estar mais certo, quando afirma que “haverá sempre um caminho até às praias de Dakar!”
O caminho este ano apresenta-se “profundamente renovado, com cerca de metade das etapas diferentes”, resume o director da prova. No programa, figuram cinco etapas em Marrocos, onde a maior novidade é o regresso de Tânger como porto de entrada. Seguem-se seis tiradas pelo interior da Mauritânia, com areia e mais areia, a trazer uma dificuldade adicional; além da navegação, é claro! Para terminar, apenas uma etapa no Senegal, entre a antiga e a actual capital: de Saint-Louis a Dakar, culminando num desfile pela praia. Os últimos quilómetros, duas dúzias, irão ser refrescados pelo respingar das ondas do Atlântico, em contra-relógio. O cronómetro desliga-se com a chegada ao Lago Rosa. E então será a festa consagração. Para todos os que lá chegarem!
Um ano depois da vitória histórica de Elisabete Jacinto…
Um ano depois da vitória histórica de Elisabete Jacinto, José Marques e Marco Cochinho, a presença portuguesa repete-se. Mas, pela primeira vez em muitos anos, não haverá um camião nosso à partida! O projecto de Elisabete Jacinto na categoria T4 terminou em grande, com uma vitória que resulta na maior consagração para qualquer piloto. E se é certo que ainda foram feitas diligências para participar, noutra categoria, os apoios não surgiram…
Encontrar apoios é, aliás, a principal dificuldade que Fernando Barreiros identifica quando pensa no Africa Eco Race. O piloto, que começou a correr em 1997, integrado na estrutura da Prolama, estreia-se em África também com o suporte desta equipa. Leva a Isuzu D-Max que conduziu em 2019 e lhe permitiu sagrar-se Vice-Campeão de Espanha e Vice-Campeão Ibérico; em ambos os casos no grupo T2 e sempre acompanhado por Nuno Barreiros, navegador que é, também ele, um veterano.
Os dois Barreiros, Fernando e Nuno, que em comum, além da amizade, partilham o apelido, mas sem laços familiares, vão enfrentar uma forte concorrência no grupo T2. São apenas mais quatro equipas, mas que impõem “respeito”. Por isso mesmo, Fernando Barreiros diz que “não vamos perder a cabeça para ir atrás dos adversários. Vamos sim, concentrar-nos na nossa participação, procurando atingir o objectivo primordial desta estreia. E isso significa chegar ao fim. Quanto melhor classificados, melhor, mas acima de tudo, queremos levar a Isuzu D-Max até Dakar. E para isso confiamos na fiabilidade da Isuzu e na experiência da Prolama, na preparação e suporte técnico!”
João Rôlo determinando em terminar classificado!
Além dos dois Barreiros, a representação nacional inclui um terceiro concorrente: João Rôlo, que estará presente pela segunda vez. Estreou-se em 2018 e embora não tenha logrado classificar-se, conseguiu alcançar a chegada, em Dakar. “Este ano, quero ir de novo até Dakar, mas a aposta é terminar classificado. E para isso, confio na experiência que já adquiri, para poder mais facilmente superar as dificuldades que o percurso encerra”, afirma o piloto da Anadia. A sua moto, de 450 cc., será suportada por uma equipa britânica, o que permite a João Rôlo encarar a prova com mais tranquilidade: “Há dois anos, era eu mesmo que tinha de cuidar da manutenção da moto, todos os dias. Isso implicar renunciar ao descanso, o que acaba por pagar-se no desempenho na pista…”
Ainda esta noite, Fernando, Nuno Barreiros e João Rôlo, cumprirão a primeira ligação, com o Africa Eco Race prestes a arrancar do Mónaco. E na caravana vai ainda o camião de assistência de Fernando Barreiros, que foi transformado para ser oficina e dormitório: “Teremos óptimos meios para assistir a Isuzu, mas também teremos um pouco mais conforto para repousar após cada etapa”, assegura o piloto!
E há ainda outra viatura portuguesa no Africa Eco Race: o Toyota Land Cruiser 100 de Jorge Cunha, um dos dois fotógrafos oficiais da prova, juntamente com o francês Alain Roussignol. Jorge Cunha, da agência Aifa, acompanha a prova, ano sim, ano não, de helicóptero ou de 4×4. Este é o ano em que será o seu companheiro, Roussignol, a fotografar desde o céu. Pelo que Jorge Cunha deu-se ao luxo de levar consigo um dos melhores e mais experientes navegadores. Sobretudo para esta rota. É ele José Marques, que acompanhou Elisabete Jacinto nos últimos anos! José Marques é também o representante em Portugal do Africa Eco Race.
Texto: Alexandre Correia Fotos: Jorge Cunha/AIFA