Para quem ganha, a vitória é sempre um motivo para sorrir, para celebrar; por vezes até para não esquecer. A vitória que Ricardo Sequeira e Jorge Monteiro conseguiram este fim de semana no Huambo, terá sido, provavelmente, isso tudo. Mas ao vencer a quinta prova do Campeonato de Angola de Rali-Raid, a dupla do Mitsubishi Pajero EVO obteve uma recompensa ainda maior: quando ainda faltam duas provas para a temporada terminar, em Angola já temos novo campeão!…
O piloto de Marco de Canavezes, radicado em Luanda há longos anos, já era considerado uma figura nos desportos motorizados em Angola. “Comecei a correr nos ralis de Angola em 2009 e desde então já passei por todas as categorias”. Quem o diz é o próprio Ricardo Sequeira, em declarações à Todo Terreno, feitas a partir da capital angolana. “Competi com Moto4, depois Kartcross, UTV e finalmente passei para os todo terreno grandes quando comprei uma Mazda BT-50”. Era uma das pick-up’s que disputaram em Portugal o Desafio Total Mazda, “mas nunca conseguimos encontrar uma viatura com a fiabilidade necessária para discutir um título”.
Segundo Ricardo Sequeira, “demonstrámos constantemente que tínhamos andamento para ser campeões, mas faltava, precisamente, essa fiabilidade”, recorda o piloto. Encontrar uma máquina que permitisse ir mais além tornou-se num objectivo bastante perseguido. Mas quando pensou que tinha acertado, as coisas não correram como esperava…
Transformar um pesadelo num sonho
“Em 2014 adquirimos o Mitsubishi Pajero EVO ( ex Pedro Grancha ), construído pela extinta VR2 Motorsport. Nessa altura, o Rali Raid estava em grande evolução em Angola”, prossegue Ricardo Sequeira. “Estávamos convencidos que seria o carro ideal para tentar a conquista do título. Mas, na verdade, ‘foi um grande tiro no pé’ porque tivemos vários problemas desde a primeira prova”. Primeiro era o aquecimento da mecânica, depois os travões, o sistema de transmissão e motor… “
Para transformar um pesadelo num sonho, Sequeira andou quatro anos sempre a evoluir o carro. “Foi muito duro, porque em quatro épocas apenas terminamos três ralis! E ficámos com o último grande problema por resolver… o motor! Simplesmente não aguentava o ritmo a que o resto do conjunto permitia andar. Por isso decidimos dar o último grande passo na evolução do carro, que já nada tinha a ver com o que tínhamos adquirido…”
O grande passo para a mudança foi “quando trocamos a motorização original de quatro cilindros Diesel por uma V8 a gasolina… Foram cinco meses de muito trabalho e dedicação. Aproveitámos as últimas provas do ano passado para pequenos acertos e iniciamos um ciclo de 8 provas terminadas”. Recordamos que neste ciclo, Ricardo Sequeira e Jorge Monteiro, o seu navegador, conquistaram sete vitórias e um segundo lugar.
O duelo decisivo nas pistas do Huambo
É o próprio piloto que sublinha que este ciclo “terminou com o tão desejado título! Portanto, vencer o rali do Huambo foi o culminar de seis anos de muito trabalho, teimosia e dedicação a este desporto que tanto nos apaixona… Vencer este campeonato depois de todos estes anos de “luta” teve um sabor mesmo muito especial! Todas as dificuldades que foram surgindo nunca nos fizeram desistir, bem pelo contrário; fizeram-nos envolver e apaixonar ainda mais neste mundo dos ralis todo o terreno. Portanto, no final do rali do Huambo a satisfação e felicidade eram tão grandes que sinceramente nem consigo exprimir com palavras!” – e aqui fica o registo, em directo de Luanda para Lisboa.
A prova organizada por Pedro Cristina, da Ekuipa, com o precioso apoio de Carlos Seixas, piloto do Huambo, que normalmente corre de moto, só atraiu um trio de carros. “Com a crise, foram-se afastando muitos pilotos”, justifica Ricardo Sequeira. E se três já eram um número reduzido, ainda nos treinos do prólogo registou-se uma desistência, como nos explicou Sequeira…
A vitória da consagração…
“Em Angola, podemos reconhecer o percurso do prólogo com o carro de competição. Prepara-se melhor, mas é sempre um risco”. E Maló Almeida foi, precisamente, vítima desse risco: o turbo da sua Isuzu D-Max, preparada há alguns anos pela Prolama, deixou de funcionar. “Se já tínhamos poucos inscritos na nossa classe, com a desistência do Maló ficou ainda mais pobre..”, lamentou o vencedor. Que prosseguiu:
“Claro que tentámos aproveitar o azar do nosso principal adversário para fechar as contas do campeonato quando ainda faltam duas provas para o final. Mas não nos limitamos a andar apenas o suficiente e gerir para garantir os pontos. Entrámos ao ataque nas duas passagens do prólogo e vencemos à geral… Depois tínhamos quatro passagens numa curta, mas dura, especial de 27 quilómetros. Na primeira tivemos problema de travões; mas depois de resolvidos, conseguimos andar sempre muito rápido”. Prova disso é que Ricardo Sequeira e Jorge Monteiro melhoraram tempos a cada passagem, “fazendo médias de velocidade impressionantes para o todo terreno”, como nos rematou o piloto.
Ricardo Sequeira e Jorge Monteiro estavam absolutamente determinados a não cederem a primazia. Daí os seus únicos adversários terem decidido que era desnecessário correr riscos. E troço a troço, Paulo Freire e Armando Silva foram mantendo o mesmo ritmo de andamento, sem desgastarem demasiado o Mitsubishi Pajero, para no final celebrarem também. Porque com ou sem adversários, o que conta é mesmo o resultado e o segundo lugar de Freire e Silva já ninguém lhe tira!
Texto: Alexandre Correia
Fotos: Célio Sousa